A morte do arcebispo, de Willa Cather

No ano passado, tive a oportunidade de visitar a casa de Willa Cather em Red Cloud, Nebraska. As planícies ao redor de Red Cloud são o que Cather chamava “a matéria-prima com que é feita a nossa região”.

Red Cloud é um belo lugar. Basta estar lá para entender porque os céus abertos de Nebraska serviram de inspiração a um dos maiores escritores dos EUA. Mas havendo crescido em Red Cloud, entre 1880 e1890, Cather foi tocada por mais coisas, além do cenário das campinas de Nebraska. Tocaram-na as pessoas que vinham de muitos lugares para cultivar as terras dali. Tocaram-na as pessoas que vinham de cidades distantes com suas famílias para plantar e colher numa terra desconhecida. Foi tocada por sua esperança, seu otimismo, sua coragem — e pelas perdas que suportaram enquanto viajavam em busca de uma vida nova.

A morte vem para o arcebispo é um romance histórico. É a narrativa ficcionalizada do primeiro bispo missionário de Santa Fé, que Cather chamou de Jean Marie Latour. A história fala de sua viagem para o Oeste, sua luta para proclamar e viver o Evangelho, sua amizade com um irmão padre e, por fim, sua morte tranqüila.

A história me  é familiar, pois se assemelha à história do bispo verdadeiro de Santa Fé, Jean Baptiste Lamy, e seu bom amigo, o primeiro bispo de Denver, Joseph Projectus Machebeuf.

O que dá vida à obra é o incrível cenário descrito por Cather e o admirável sentido missionário compartilhado pelos dois amigos. Juntos, trabalharam para construir naquela região o reino de Deus, e Cather capturou perfeitamente a sua motivação. Recolheu as histórias que tinha ouvido sobre eles, além dos demais que conheceu em Red Cloud — gente que também tinham percorrido grandes distâncias, esperando e confiando na vontade divina. Cather capturou suas tristezas e seus triunfos. Com sua linguagem concisa, escreveu sobre coisas reais.

Veja o espírito de triunfo, a amizade e a alegria de quando a dupla chegou a Santa Fé, muito bem mostrado pela escritora:

“O jovem Bispo não estava sozinho na exaltação desse momento. A seu lado cavalgava Padre Joseph Vaillant, seu amigo de infância, que junto dele tinha feito essa longa peregrinação e, com ele, compartilhado todos os perigos. Os dois cavalgavam juntos para Santa Fé, e tudo isso para a glória de Deus.”

A morte do arcebispo é uma obra particularmente significativa para os cristãos. Suas imagens são particularmente pungentes para os que amam o Oeste americano. Seus personagens encarnam as mais autênticas virtudes, como a lealdade, a fraternidade e a amizade.

Mas A morte do arcebispo é uma história de lutas e de esperanças, de fracassos e de vitórias — uma história de vida e de morte por coisas muito mais importantes do que nós mesmos.

(James D. Conley é bispo da diocese de Lincoln, Nebraska, EUA. Este ensaio foi publicado no National Catholic Register, em 31 de maio de 2015)