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~ Cultura católica em tempos pós-cristãos

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Arquivos Mensais: março 2017

A IGREJA CATÓLICA E A NOVA ORDEM MUNDIAL

28 terça-feira mar 2017

Posted by José Carlos Zamboni in Sem categoria

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Voltam a aparecer especulações sobre a misteriosa renúncia do Papa Bento XVI, ocorrida há quatro anos. Uma pessoa próxima ao Papa, Bispo Luigi Negri, da diocese italiana de Ferrara, falou em recente entrevista sobre as grandes pressões que Bento XVI sofreu, antes de sua renúncia. Mencionou, também, o recente apelo de católicos norte-americanos dirigido ao presidente Trump, para que abra investigação sobre possíveis ações secretas do ex-presidente Obama contra o então pontífice romano. “Permanece por enquanto um grande mistério, mas estou certo de que a responsabilidade acabará aparecendo”, concluiu o Bispo Negri.

A quem interessava a queda do Papa Bento XVI? A quem ele incomodava, com sua defesa intransigente dos chamados “princípios inegociáveis”, expostos em famoso discurso lido a 30 de Março de 2006? Esses princípios eram só três, mas o bastante para contrariar fortes interesses do mundo atual: defesa da vida em todas as suas fases, da concepção à morte natural; casamento como união permanente entre um homem e uma mulher; direito dos pais de decidir sobre a educação dos próprios filhos.

Incomodava, em primeiro lugar, à chamada “elite globalista”, que há décadas planeja e lentamente executa um governo mundial, acima das soberanias nacionais. Tal “elite globalista” é uma reunião de forças políticas e econômicas internacionais, sobretudo americanas e européias, composta basicamente por representantes do capital financeiro (banqueiros e investidores) e da grande mídia, envolvendo muitos intelectuais e cientistas, muitos deles pertencentes à chamada Nova Esquerda.

A alegação desta “elite globalista” é que, na atual situação do mundo, o crescimento da população deverá ser obrigatoriamente controlado, já que os recursos da terra são finitos e sua diminuição poderia ser causa de sérios conflitos entre as nações. Para evitar guerras, portanto, urgia praticar-se uma política agressiva, com duas medidas intimamente coligadas: controle da natalidade e defesa do meio-ambiente. Em palavras mais simples, menos pessoas no mundo e mais controle dos recursos naturais.

Para isto, era importante mudar o comportamento das pessoas. Somente uma força mundial, com amplos poderes, teria condições de salvaguardar os recursos naturais do planeta e alterar uma mentalidade tão entranhada nos povos, como era a da procriação generosa. Esse governo planetário seria capitaneado pela ONU e algumas bilionárias fundações norte-americanas, ditas filantrópicas (Fundação Ford, Fundação Rockefeller, Fundação MacArthur, Fundo Global para Mulheres, entre várias outras).

Como impor ao planeta um governo mundial? Para realizar aquele projeto bípede — menos pessoas no mundo e mais controle dos recursos naturais —, algumas providências básicas deveriam ser tomadas: desestruturação da família convencional através do divórcio, legalização do aborto, disseminação dos métodos anticoncepcionais, cultura de poucos filhos, fortalecimento do movimento homossexual, educação para o sexo livre, defesa histérica do meio-ambiente, e, sobretudo, uma educação a serviço das novas idéias, privando os pais do direito de educar os próprios filhos.

Parte fundamental desse projeto mundialista era elaborar estratégias de repressão às vozes discordantes, em especial os cristãos, que eram e são os seus principais adversários, cujas normas morais dificultariam a instalação da nova mentalidade. A solução, portanto, era diminuir o poder das religiões mais dogmáticas, como a Igreja Católica, favorecendo-se a difusão de uma espécie de sincretismo religioso, misturando-se elementos de várias religiões, visando uma futura e mais flexível religião universal, moralmente neutra.

Era necessário que as novas gerações se deixassem moldar pelo “relativismo moral”, ou seja, não mais acreditassem em verdades imutáveis, válidas para pessoas de quaisquer épocas, mas em verdades flexíveis e adaptáveis a cada nova circunstância histórica.

Papa Bento XVI não quis colaborar com esse programa insensato. Ao contrário, repudiou-o com veemência, cunhando-lhe uma expressão que ficou célebre — “ditadura do relativismo” —, e por isso teve, contra si, os inimigos mais poderosos do planeta. A grande mídia o atacava continuamente. Adversários internos, dentro da própria Igreja, o constrangiam a ceder às pressões do mundo. Mas ele foi firme e manteve-se fiel a Cristo.

POR QUE PESQUISADOR NÃO-CATÓLICO ESTÁ DESMASCARANDO SÉCULOS DE HISTÓRIA ANTI-CATÓLICA? – Por Carl E. Olson

19 domingo mar 2017

Posted by José Carlos Zamboni in Sem categoria

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Entrevista com o Dr. Rodney Stark, sociólogo e autor do livro Tolerando falsas testemunhas (Bearing False Witness)”. Dr. Rodney Stark escreveu cerca de 40 livros sobre variados temas, entre estes, alguns sobre a história do Cristianismo, do monoteísmo, do Cristianismo na China e as raízes da modernidade. Depois de iniciar como jornalista e passar algum tempo no Exército, Stark recebeu seu Ph.D. na Universidade da Califórnia, Berkeley, onde ocupou cargos como sociólogo e pesquisador no Departamento de Pesquisa no Centro de Estudos de Direito e Sociedade. Mais tarde foi Professor de Sociologia e de Religião Comparada na Universidade de Washington. Atualmente, ele está na Universidade de Baylor, onde ensina desde 2004. Stark é ex-presidente da Sociedade para o Estudo Científico da Religião e da Associação para a Sociologia da Religião, e ganhou vários prêmios nacionais e internacionais por distinta bolsa de estudos. Criado como um luterano, ele se identificou como um agnóstico, mas, mais recentemente, chamou a si mesmo de “cristão independente”. Seu livro mais recente é Tolerando falsas testemunhas: Contradizendo séculos de história anticatólica ( Bearing False Witness: Debunking Centuries of Anti-Catholic History. Templeton Press, 2016), que aborda os dez maiores mitos sobre a história da Igreja Católica. Dr. Stark recentemente respondeu, por e-mail, algumas perguntas de Carl E. Olson, editor do site Catholic World Report.

Carl: Em primeiro lugar, você inicia o livro ressaltando a sua educação como protestante americano e, em seguida, examinando o “fanático ilustre”. O que é um “fanático ilustre”? E como essas pessoas influenciaram o modo como a Igreja Católica é compreendida e percebida por muitos americanos hoje?

Dr. Rodney Stark: Ao distinguir o fanático, falo proeminentemente dos acadêmicos e intelectuais que claramente são antagônicos à Igreja Católica lançando falsas sentenças e afirmações históricas que são falsas.

Carl: Como você identificou e selecionou os dez mitos anticatólicos que você refuta em seu livro? Até que ponto esses mitos fazem parte de uma cultura protestante em geral (embora às vezes vaga), e até que ponto eles são encorajados e difundidos por uma elite cultural mais secular?

Dr. Stark: Na maior parte dos casos, encontrei esses mitos anticatólicos quando escrevi sobre vários períodos e acontecimentos históricos e descobri que esses conhecidos “fatos” eram falsos e, portanto, eu era forçado a lidar com eles nesses estudos. Esses mitos não se limitam a uma cultura protestante generalizada — muitos católicos, inclusive alguns bem conhecidos, também os repetiram. Esses mitos têm sido muitas vezes, e por muito tempo, admitidos como verídicos e verdadeiros por historiadores em geral. É claro que os secularistas — especialmente ex-católicos como Karen Armstrong — adoram esses mitos.

Carl: O primeiro capítulo é sobre “os filhos do antissemitismo”. Talvez o mais decisivo e controverso dos tópicos que você aponta. Como seu ponto de vista sobre esses assuntos mudaram e por quê? Por que você acha que continua a existir uma ampla convicção ou impressão de que a Igreja Católica é intrinsecamente antissemita?

Dr. Stark: Quando comecei como estudioso, “todos”, incluindo os principais católicos, tinham que a Igreja era a principal fonte de antissemitismo. Foi só mais tarde, quando trabalhei com documentos medievais sobre judeus, que descobri o papel efetivo da Igreja em opor-se e reprimir tais ataques — essa verdade é contada pelos cronistas judeus medievais e, portanto, certamente verdadeira. Por que tantos “intelectuais”, muitos deles ex-católicos, continuam a aceitar a noção de que o Papa Pio XII era “o Papa de Hitler”, quando isso é tão obviamente uma mentira viciosa? Só pode ser ódio à Igreja. Tenha em mente que são principalmente os judeus que defendem o Papa [Pio XII].

Carl: Por que vários historiadores, como Gibbons, apresentaram os antigos pagãos como benevolentes ou, na maioria, tolerantes com o cristianismo? Qual foi a relação real entre o cristianismo e o paganismo nos primeiros séculos da existência da Igreja?

Dr. Stark: Naqueles dias, a maneira segura de atacar a religião era deixar os leitores assumirem que era apenas um ataque ao catolicismo, de modo que foi o que Gibbon e seus contemporâneos fizeram. Talvez surpreendentemente, uma vez que os pagãos já não eram capazes de perseguir os cristãos, eles foram praticamente ignorados pela Igreja e pelos imperadores e apenas desapareceram lentamente.

Carl: Como se desenvolveu a mito da “Idade das Trevas”? Quais são alguns dos principais problemas com esse mito?

Dr. Stark: Voltaire e seus associados fizeram a ficção da Idade das Trevas para que pudessem alegar os ter superados com o Iluminismo. Como todos os historiadores competentes (e até mesmo as enciclopédias) reconhecem agora, não houve Idade das Trevas! Ao contrário, foram nesses séculos que a Europa deu o grande salto cultural e tecnológico que a colocou tão à frente do resto do mundo.

Carl: Que relação existe entre o mito da “Idade das Trevas” e o mito do “Iluminismo secular”? Quão racional e científico, de fato, foi o Iluminismo?

Dr. Stark: Os “filósofos” do chamado “Iluminismo” não desempenharam qualquer papel na ascensão da ciência — o grande progresso científico da época foi alcançado por homens altamente religiosos, muitos deles clérigos católicos.

Carl: As Cruzadas e as Inquisições continuam sendo apresentadas como épocas e eventos que envolveram a barbárie cristã e o assassinato de milhões. Por que esses mitos são tão populares e difundidos, especialmente depois que os estudiosos passaram décadas corrigindo e esclarecendo o que realmente aconteceu (ou não)?

Dr. Stark: Sou competente para revelar que as Cruzadas eram legítimas guerras defensivas e que a Inquisição não era sangrenta. Não sou competente para explicar por que uma pilha de pesquisas finas que apoiam essas correções não teve impacto nos cursos desses tagarelas. Suspeito que esses mitos sejam preciosos demais para os antirreligiosos se renderem.

Carl: Ao abordar a “Modernidade Protestante”, você afirmou categoricamente que a tese de Max Weber de que com o Protestantismo nasceu o capitalismo e a modernidade é “absurda” [nonsense]. Quais são os principais problemas com a tese de Weber?

Dr. Stark: O problema é que o capitalismo simplesmente foi desenvolvido e cresceu na Europa muitos séculos antes da Reforma.

Carl: Você afirma enfaticamente que, como um estudioso com um fundo protestante trabalhando em uma universidade Batista, você não escreveu seu livro como “uma defesa da Igreja”, mas “em defesa da história”. Por que isso é significativo? E, finalmente, você acha que a maioria dos americanos realmente dá mais crédito à história do que à Igreja?

Dr. Stark: Eu acho que os ilustres fanáticos terão dificuldade em me acusar de ser um católico, tentando encobrir os pecados da Igreja. O único machado que tenho a moer é que a história deve ser honestamente relatada. Quanto ao seu ponto final: Eu não acho que “a maioria dos americanos” jamais saberá que este livro foi escrito. Só posso esperar que influencie intelectuais e escritores de livros didáticos — talvez.

(Tradução de Allan L. Dos Santos. Publicado em: https://medium.com/@allandossantos/por-que-esse-pesquisador-não-católico-está-desmascarando-séculos-de-história-anti-católica-3fcabaeb9c84#.yqccej)

AS RAZÕES DA IGREJA SOBRE SEXO – Entrevista com a filósofa belga Thérèse Hargot, por Benedetta Frigerio

15 quarta-feira mar 2017

Posted by José Carlos Zamboni in Sem categoria

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Ela é belga, casada, tem três filhos, uma licenciatura em filosofia e um mestrado em ciências sociais pela Sorbonne de Paris, e tem apenas 32 anos. Mas Thérèse  Hargot não só contradiz “a antítese contemporânea (que tem o seu símbolo na contracepção) para a qual a maternidade e carreira profissional são incompatíveis”.  Estudou enquanto já era casada, com filhos a tiracolo, é bonita e nada vulgar, demonstrando também que a mulher pode ser valorizada por sua modéstia. Feminina até a medula, Thérèse parece prova viva de que confiança, no homem, não é sinônimo de “fraqueza”. Ao contrário. Esta jovem filósofa francesa é muito determinada e segura de si, porque sabe que a “ambivalência feminina” se resolve confiando na figura masculina. Demonstra enfim, como não crente, que “a visão da Igreja sobre o homem não é verdadeira somente para aqueles que têm fé”, mas para qualquer homem racional. Estas são as questões que Hargot aborda em seu último livro: A juventude sexualmente livre (Eeditora Sonzogno, 176 páginas).

Hargot, em seu livro você fala do aborto como consequência da contracepção, e, em seguida afirma que a verdadeira liberdade está na prática de métodos naturais. Por quê?

O fato de que as mulheres possam conhecer o seu corpo lhes dá grande autonomia, mas também para os seus homens. Para mim, a verdadeira liberdade não pode residir na dependência de um médico que me prescreve contracepção e uma empresa farmacêutica que produz contraceptivos.

Por que  argumenta que a contracepção é responsável por uma visão social que tornou a figura da mãe antitética àquela da mulher que trabalha?

Quando a mulher contemporânea chega ao momento fatal do nascimento do primeiro filho, percebe que existe uma incompatibilidade entre estas duas funções. Não porque o sejam, em si, mas porque a nossa sociedade tornou-os assim, impelindo a mulher a fazer carreira como um homem, conforme uma modalidade que não lhe pertence. Neste sentido, o feminismo falhou. A verdadeira revolução social, o novo feminismo, deveria ao contrário contribuir para que o mundo do trabalho permitisse às mulheres fazer carreira, tendo em conta o seu papel de mães, por ex., através de mais flexibilidade, segundo os tempos e modos adequados à natureza feminina. Seria necessário ajudar os adolescentes a ter confiança no próprio corpo e nos próprios desejos, inclusive o de formar uma família sem contraposição à vontade de desenvolver uma carreira. A maternidade valoriza a mulher em suas capacidades.

A contracepção é o resultado de uma visão “libertina” resumida pelo slogan “o corpo é meu e eu o administro.” No entanto, nunca antes, como no século feminista, a mulher tornou-se um objeto. Por quê?

Foi a pregação de que “o corpo é meu” e “eu o administro”,  que transformou o corpo feminino em um objeto, justificadora da mercantilização consensual do corpo. Vemos isso com relação à mãe de aluguel. “Se a mulher quer – diz-se por aí –, pode fazê-lo.” Mas quem aceita esse slogan acaba não tendo argumentos teóricos para refutar, por ex., a prática dos serviços sexuais de adolescentes em troca de dinheiro ou aparelhos celulares. Por isso, eu creio que seja uma hipocrisia das feministas oporem-se a essas práticas, inclusive o útero de aluguel, sem rever as premissas do seu pensamento resumida naquele slogan.

Acha que há uma ligação entre os direitos feministas e a guerra que visa tornar a mulher e o homem inimigos entre si?

O fato é que o feminismo de Simone de Beauvoir e suas companheiras produziu um ideal feminino superior ao dos homens, desprezando a igualdade dos sexos que diziam querer, pelo menos com palavras. Mas, também neste caso, o conflito só é possível graças à contracepção, que produz uma guerra interna nas mulheres, que lutam para compatibilizar o seu ser-mãe e o seu ser-mulher. É graças a esta luta interna que a guerra pode estourar também em nível social.

Você descreve a mulher como um ser de natureza ambivalente: pode estar grávida, pode querer ter um filho e, ao mesmo tempo, ter dúvidas sobre isto. Pelo contrário, o homem é a autoridade que, garantindo a lei, lembra à mulher que seu filho deveria nascer. Desta maneira,você não termina também por contrapor os dois sexos?

Não diria isto. O homem tem essa natureza em função protetora da mulher, embora a sociedade o tenha deposto deste papel. Basta pensar sobre a lei do aborto, que o priva de toda responsabilidade.

Quando você fala da lei, o que quer realmente dizer?

Não é da “lex”, mas da “ius”, ou seja, não da lei específica, adaptada a cada caso, mas da norma geral. Na verdade, há um nível objetivo fundamental da lei (ius), que depois se espalhou para vários níveis, para se adaptar a casos especiais (lex). A “lei” sobre o aborto contradiz a “ius”, banalizando o problema da maternidade. Mas eu gostaria de repetir que o problema subjacente continua a ser a contracepção, ao qual o aborto presta um serviço em caso de falha.

Mas qual é, então, a função das mulheres em relação aos homens, e, portanto, em relação à sociedade?

A mulher é um testemunho do mistério da vida. Gosto de uma frase de João Paulo II, segundo a qual “a mulher é uma testemunha do invisível”. Testemunha, ou seja, uma conexão com o sentido sagrado da existência. É por isso que o seu ministério é o da humildade, na medida em que tem a tarefa de lembrar ao homem que ele não é Deus. Por exemplo: quando uma mulher dá à luz com dor, lembra ao homem a sua impotência. Ele, naquele momento, tem a tarefa de protegê-la, mas ao mesmo tempo não pode fazer nada para impedir que o parto seja doloroso. Esta posição de humildade, em que o homem é colocado pela mulher, será para ele necessária para acompanhar o filho pela vida afora.

Muitas vezes, o seu pensamento chegou às mesmas conclusões que o Magistério da Igreja. Você nunca se perguntou por quê?

Eu me explico isso com o fato de que compartilhamos a mesma visão filosófica sobre a idéia de pessoa: para a Igreja, a fé e a razão são as duas asas com as quais o intelecto se eleva para a verdade. Este é o lado do meu trabalho que pode interessar aos católicos: compartilhando, como laica, o realismo do magistério católico, demonstro precisamente a razoabilidade da fé. (10/03/2017)

(Este texto se encontra em: http://www.lanuovabq.it/it/articoli-parola-di-femministale-ragioni-dellachiesa-sul-sesso-19191.htm)

POR QUE TORNARIA A ME CONVERTER AO CATOLICISMO – Aldo Maria Valli

08 quarta-feira mar 2017

Posted by José Carlos Zamboni in Sem categoria

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“Recentemente, celebrei o vigésimo quinto aniversário da minha conversão ao catolicismo, e, quando volto a esse tempo, eu me lembro de que era uma época de grande otimismo na Igreja.”

Assim escreve Eric Sammons, um ex-protestante convertido ao catolicismo em 1993. Seu artigo, “Vinte e cinco anos depois, eu ainda me tornaria católico”, pode ser lido no site www.onepeterfive.com e é uma contribuição muito interessante, seja para entender o  estado de saúde atual da Igreja Católica, seja para considerar em que medida, e por que razões, a Igreja Católica, quando vista de fora, ainda pode ser atraente.

No início dos anos noventa, lembra Sammons (que é pai de sete filhos, autor de livros sobre sua conversão e compromissos gerais com a evangelização), todos sentiam que finalmente terminava o período negro dos anos setenta e oitenta, e, sob o pontificado de João Paulo II,  veríamos a igreja de volta à sua antiga glória.”

“A cada semana”, escreve Sammons, “mais um pastor protestante se tornava católico. Eu pensava que, uma vez  na Igreja Católica, me tornaria um defensor da verdade e dos valores cristãos, e assim permaneceria para o resto da minha vida.”

“Vivi como católico por um quarto de século, cinco anos dos quais trabalhando para uma diocese. Foi uma viagem interessante, mais do que esperava… Eu me sentia privilegiado por ter entrado na Igreja sob o Papa João Paulo II. Literalmente pulei de alegria, quando o Cardeal Ratzinger, meu teólogo favorito, foi eleito papa em 2005. No entanto, desde aquele momento tenho testemunhado uma sucessão de escândalos na Igreja: a crise dos abusos cometidos por padres, a indiscutível homossexualidade entre o clero, paróquias mornas, falsos ensinamentos e ações covardes em todos os níveis da hierarquia”.

Mas as coisas, sustenta Sammons, em muitos aspectos, estão piores agora. “Uma das principais razões pelas quais eu abandonei protestantismo foi que vi, na Igreja Católica, uma rocha segura sobre a qual pudesse permanecer firme em meio às águas turbulentas da modernidade. Um dos meus primeiros passos em direção do catolicismo foi motivado pela frustração causada pelos ensinamentos morais do protestantismo, ou melhor, a falta de ensinamentos. Eu era um membro da Igreja Metodista Unida, que aprovou tanto a contracepção artificial como o aborto. Apesar de ter levado em consideração outras denominações protestantes, não encontrava nenhuma que não estivesse contaminada pelos ventos do relativismo moral que caracterizam a vida moderna. Na Igreja Católica, no entanto, encontrei uma trincheira de força moral. Eu admirava o papa João Paulo II e sua disposição para lutar sem trégua pelos princípios morais, mesmo enfrentando forte oposição. Mas se alguém tivesse me dito, então, que um quarto de século mais tarde alguns sínodos romanos iriam colocar em causa as questões não-negociáveis, como o adultério, sob um olhar de aprovação do romano pontífice, eu teria me perguntado se valeria a pena abandonar a fé de minha juventude”.

“Mas eu acho”, diz Sammons, “que, depois de tudo, valeu a pena. ” Se, olhando para os dois sínodos sobre o cuidado pastoral da família, o ex-protestante manifesta algumas dúvidas sobre a sua escolha, ele se sente muito mais fortalecido pensando nas promessas de Cristo em defesa de Sua Igreja.

“Como Metodista”, escreve ele, “eu estava sempre preocupado que a minha comunidade continuasse a abandonar a moral tradicional para abraçar todos os aspectos da revolução sexual, como então realmente aconteceu. Eu sabia que era possível, pois Cristo nunca prometeu proteger a Igreja Metodista do erro. Como católico, porém, eu sou menos ansioso. Claro, eu me escandalizo quando líderes católicos abraçam a mentira e o mal, e quando o fazem de forma a causar prejuízos incalculáveis ​​às almas. No entanto, sei que a Igreja Católica não fracassará, e continuará a ser a Igreja de Cristo. Essa garantia não deve ser tomada como uma desculpa para permitir a propagação de mentiras ( “Foi apenas uma brincadeira em um avião, o que isso importa?”), mas para colocar as coisas em uma perspectiva correta. Se seguirmos os ensinamentos oficiais da Igreja Católica como um todo, seremos salvos. Nenhuma outra igreja pode dizê-lo.”

“Outro aspecto da Igreja Católica, que nunca pode ser  subestimado”, diz Sammons, “é constituída pelos sacramentos. Você poderia ir a uma missa celebrada por um padre vestido de palhaço, e nós, fiéis, ainda assim receberíamos o Corpo e Sangue de Cristo na Eucaristia.

“Esta consciência”, insiste Sammons, “não deve nos levar a subestimar o escândalo de uma missa mal celebrada, mas nos ajuda a sublinhar que o Senhor nunca deixará de derramar a sua graça sobre o mundo para a salvação das almas. Como católico, tenho o privilégio de encontrar Cristo na Santa Comunhão e na confissão. E a cada dia recebo graças através do sacramento do matrimônio. Estes são dons que superam infinitamente  quaisquer escândalos ou fraquezas dos ministros de Cristo”.

“Outra razão pela qual ainda me converteria ao catolicismo”, Sammons diz, “é que quando eu era protestante o meu conhecimento da história cristã abrangia apenas o primeiro e o  XVI século, mas eu não sabia nada daquela maravilhosa tapeçaria composta pela vida dos santos, que testemunharam a verdade da Igreja.

“Quando vejo as alturas de santidade que produz a Igreja Católica, sei que deve ser inspirada por Deus, porque nenhuma instituição humana poderia incluir membros tão luminosos. Eu quero ser parte da Igreja que incluiu São Pedro, Santo Atanásio, São Bento, São Francisco e Santa Clara, Santa Teresa de Ávila, Santa Teresa de Lisieux, São Maximiliano Kolbe. Cumpre notar que os maiores santos viveram em momentos das maiores crise na Igreja e no mundo. E se a Igreja pôde produzir tais gigantes da fé durante períodos de grande escândalo, talvez possa mudar para melhor até a mim mesmo…”

“É por isso”, escreve Eric Sammons em conclusão, “que tornaria a me converter ao catolicismo: pois é verdadeiro! ”

“Nunca iria participar de uma religião ou uma igreja para aderir ao culto da personalidade do seu líder, ou porque esteja livre de escândalos. Uno-me à Igreja Católica porque é verdadeira. A Igreja Católica ensina a verdade, e é a única via de acesso para o Caminho, a Verdade e a Vida. Há apenas uma Igreja: a Igreja Católica. Ser um seguidor de Cristo significa ser um membro da Igreja Católica. Ir a outro lugar significa abandonar Nosso Senhor”.

“São Pedro, depois de Cristo revelar o seu ensinamento sobre a Eucaristia, perguntou ao Senhor: ‘Senhor, a quem iremos? Só Tu tens palavras de vida eterna; e nós acreditamos e sabemos que Tu és o Santo de Deus’ (João 6, 68-69) “.

“Da mesma maneira”, diz Sammons, “quando estou frustrado ou escandalizado por causa do que eu vejo acontecer na Igreja de hoje, só posso exclamar: ‘Senhor, para onde devo ir? Estabeleceste a Igreja Católica como o caminho para a vida eterna; e acreditei; e vim a saber que ela é a verdadeira Igreja de Cristo’”.

O que acrescentar a este belo testemunho de Eric Sammons? Apenas uma reflexão. Estamos tão preocupados em ver o que nos falta para sermos como os nossos amigos protestantes, que não nos damos conta do quanto possuímos, dos dons que o Senhor nos deu e do quanto falta aos protestantes para serem como nós.

Não se trata de fazer classificações, porque o Espírito sopra onde e como quer, mas de enfrentar a realidade da Igreja Católica, a única verdadeira Igreja de Cristo. Expressão que hoje, na era “ecumenicamente correta”, pega mal, mas nem por isso deixa de ser verdadeira!

(Este artigo foi extraído do blog do vaticanista italiano Aldo Maria Valli: http://www.aldomariavalli.it/2017/03/04/ecco-perche-tornerei-a-convertirmi-al-cattolicesimo/)

O ROMANCE CATÓLICO BRASILEIRO

05 domingo mar 2017

Posted by José Carlos Zamboni in Sem categoria

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No século XX, em torno licoes_de_abismodos anos trinta, surgiu uma corrente literária muito importante na literatura brasileira: o romance católico. Bastante negligenciada pela atual crítica acadêmica, quase completamente dominada por preconceitos ideológicos, a ficção católica preocupava-se com questões morais e espirituais quase inexploradas pelo romance realista do período.

A ficção católica brasileira dos anos trinta era confessional, introspectiva, de sondagem da alma. A narração de fatos exteriores e rápidas pinceladas psicológicas, próprias da maneira realista, cediam lugar nos autores católicos a uma viagem mais demorada pelo mundo interior dos personagens, geralmente inspirando-se nas técnicas proustianas de construção da alma. O seu centro de interesse eram questões do tipo: fé e dúvida, crime e castigo, justiça e misericórdia, inocência e pecado, carne e espírito, prazer e sacrifício, obediência e rebeldia, ódio e piedade, bem e mal, vício e virtude, caridade e egoísmo, esperança e desespero, perdição e santidade.

Vejamos alguns nomes representativos dessa importante vertente literária.

OCTAVIO DE FARIA. Nasceu de família abastada. Depois de diagnosticar os problemas de sua própria classe na obra Tragédia burguesa, romance-rio com personagens recorrentes e sem grande brilho estilístico, achava que só o cristianismo poderia salvar a família moderna: nem o liberalismo do deus Mercado, nem o marxismo da divindade igualitarista. A propósito, há uma tirada espirituosa do escritor, que de si mesmo dizia ser não um romancista católico, mas um católico que escrevia romances. Um católico que escreveu os romances mais católicos da literatura brasileira…

LÚCIO CARDOSO. Era o mais novo do grupo, mineiro, de família de fazendeiros. Além da ficção, praticou o teatro, a poesia e tentou o cinema. Começou mais ou menos naturalista, em 1934, com o romance Maleita, para depois descobrir o rico filão da narrativa psicológica. Adestrou a mão com uma série de romances antes de, em 1959, lançar-se à realização de sua indiscutível obra-prima no gênero: Crônica da casa assassinada. É um retrato de certa burguesia rural mineira, economicamente em decadência, flagrada em seus mais inconfessáveis pecados capitais. Foi filmado, em 1971, por Paulo Cesar Saraceni, com bela trilha sonora de Tom Jobim, em versão infiel ao espírito da obra: tem mais de “cinema novo” do que de Lúcio Cardoso. A preocupação com a decadência da família burguesa aproximou-o de Octavio de Faria, que cuidou postumamente da edição do seu último e incompleto romance, O viajante.

JOSÉ GERALDO VIEIRA. Egresso da alta burguesia urbana, que lhe povoa os dez romances, era um virtuose do estilo. Médico, homem de formação enciclopédica, dominava a língua portuguesa como poucos colegas de sua geração. Algumas vezes, porém, abusava do virtuosismo: era capaz de, pela força dos detalhes e do rebuscamento estilístico, inflar seus textos de informações que acabavam por esconder o seu principal objetivo, que sempre foi o estudo das almas; as quais, inconformadas com os limites impostos por este mundo passageiro, andavam em permanente busca de transcendência: espacial, com as frequentes incursões europeias; cultural, com o papel privilegiado da arte na busca de sentido existencial; metafísica, com a convicção de que só o Paraíso é capaz de satisfazer as expectativas humanas.

CORNÉLIO PENA. Pessoa discretíssima, durante muito tempo hesitou entre as artes plásticas e a literatura. Sempre desprezou a vida literária. Escrever, para ele, era algo íntimo, uma espécie de ascese, cuja cristalização em obras literárias era mais um acidente do que um objetivo. Ligado à burguesia rural, passou pedaços da infância em algumas cidades mortas de Minas Gerais, ambiente que marcaria para sempre os seus quatro romances, de mistura com velhas fazendas paulistas do café; não pelos aspectos sociológicos da decadência, mas pela oportunidade de ali emoldurar seus dramas intimistas, de profunda angústia existencial e religiosa, para sempre marcado pelos escritores russos que devorou na juventude. Os ambientes mortos de Minas impregnaram o seu estilo, de rio largo e parado que avança lentamente pela trama, sem pressa de chegar ao final do enredo. Disse em entrevista, certa vez, que o homem, caso queira salvar-se, deve comparecer voluntariamente perante o Criador. Seus personagens foram criados com essa finalidade: responder ao apelo intransferivelmente pessoal de Deus.

GUSTAVO CORÇÃO. Foi engenheiro elétrico de profissão. Não só sabia calcular probabilidades, mas acreditava também na possibilidade da intervenção de Deus na natureza. Escreveu, lamentavelmente, só um romance: Lições de abismo, publicado no início dos anos cinquenta. Mergulho corajoso nos porquês da vida diante da morte, é um dos principais romances de sua geração e dos maiores de toda a literatura brasileira, tendo provocado inesperados elogios de um velho comunista, Oswald de Andrade, que equiparou com justiça o seu fino humorismo e a sua prosa concisa à de Machado de Assis. Prosa e humor que já estavam em seu primeiro, A descoberta do outro, de 1944, autobiografia espiritual em que o escritor, com arte consumada de romancista, relata a sua conversão à Igreja Católica (a quem dedicou toda a sua maturidade estilística, em artigos, ensaios e livros cuja arte apuradíssima é ressaltada até por inimigos). Quem escreveu com mais equilíbrio, em língua portuguesa moderna, do que esse inquieto autor de um único romance?

O Primeiro Domingo da Quaresma

05 domingo mar 2017

Posted by dimascovas in Sem categoria

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Neste domingo, 5/03/2017, as leituras bíblicas na Missa são: Genesis 2, 7-9; 3, 1-7 –

Carta de Paulo aos Romanos – Rom 5, 12- 19 e o Evangelho de Mateus 4, 1 – 11.

Segue cópia da Reflexão sobre as leituras de hoje produzida pela Paróquia de São Luis do Algarve – Portugal:

REFLEXÃO:

No início da nossa caminhada quaresmal, a Palavra de Deus convida-nos à “conversão” – isto é, a recolocar Deus no centro da nossa existência, a aceitar a comunhão com Ele, a escutar as suas propostas, a concretizar no mundo – com fidelidade – os seus projectos.

A primeira leitura afirma que Deus criou o homem para a felicidade e para a vida plena. Quando escutamos as propostas de Deus, conhecemos a vida e a felicidade; mas, sempre que prescindimos de Deus e nos fechamos em nós próprios, inventamos esquemas de egoísmo, de orgulho e de prepotência e construímos caminhos de sofrimento e de morte.

A primeira parte (cf. Gn 2,7-9) do texto que nos é proposto apresenta-nos dois quadros significativos. O primeiro quadro (vers. 7) pinta – com cores quentes e sugestivas – a origem do homem: “o Senhor Deus formou o homem do pó da terra e insuflou-lhe nas narinas um sopro de vida”. O verbo utilizado para descrever a acção de Deus é o verbo “yasar” (“formar”, “modelar”), que é um verbo técnico ligado ao trabalho do oleiro. Deus aparece, assim, como um oleiro, que modela a argila. Estamos muito próximos das concepções mesopotâmicas, onde o homem é criado pelos deuses a partir do barro (o jogo de palavras “’adam” – “homem” – e “’adamah” – “terra”, sugere que o homem – “’adam” – vem da “terra” – “’adamah” – e, morrendo, voltará à terra de onde foi tirado). No entanto, o homem formado da terra não é apenas terra, pois ele recebe também o “sopro” (“neshamá”) de Deus. A palavra hebraica utilizada significa “sopro”, “hálito”, “respiração”. É a vida que vem de Deus que torna o homem vivo… O homem tem qualquer coisa de divino; a vida do homem procede, directamente, de Deus. É significativa a forma como o jahwista sublinha o cuidado de Deus na criação do homem: Deus é o oleiro que modela cuidadosa e amorosamente a sua obra; e, ainda mais, transmite a esse homem formado da terra a sua própria vida divina. O homem aparece, assim, como o centro do projecto criador de Deus: ele ocupa um lugar especial na criação e é para ele que tudo vai ser criado. No segundo quadro (vers. 8-9), o autor jahwista reflecte sobre a situação do homem criado por Deus… Para que é que Deus criou o homem? Para ser escravo dos deuses e prover ao sustento das divindades, como nos mitos mesopotâmicos? Não. Na perspectiva do nosso catequista, o homem foi criado para ser feliz, em comunhão com Deus. Para descrever a situação ideal do homem, criado para a felicidade e a realização plena, o jahwista coloca-o num “jardim” cheio de árvores de fruta. Para um povo que sentia pesar constantemente sobre si a ameaça do deserto árido, o ideal de felicidade seria um lugar com muitas árvores e muita água. Os mitos mesopotâmicos apresentam, aliás, as mesmas imagens. No meio dessa vegetação abundante, o autor coloca duas árvores especiais: a “árvore da vida” e a “árvore do conhecimento do bem e do mal”. A “árvore da vida” é o símbolo da imortalidade concedida ao homem. Provavelmente, ao falar da “árvore da vida”, o autor está a pensar na “Lei”: desde o início, Deus ofereceu ao homem a possibilidade da vida plena e imortal, que passa por uma vida percorrida no caminho da Lei e dos mandamentos… Ao lado da “árvore da vida” e em contraposição a ela (pois traz a morte), está a “árvore do conhecimento do bem e do mal”. Provavelmente, representa o orgulho e a auto-suficiência de quem acha que pode conquistar a sua própria felicidade, prescindindo de Deus. “Comer da árvore do conhecimento do bem e do mal” significa fechar-se em si próprio, querer decidir por si só o que é bem e o que é mal, pôr-se a si próprio em lugar de Deus, reivindicar autonomia total em relação ao criador. O homem que renuncia à comunhão com Deus está a seguir o caminho da morte. A ideia do nosso catequista é esta: Deus criou o homem para ser feliz; deu-lhe a possibilidade de vida imortal; mas o homem pode escolher prescindir de Deus e percorrer caminhos onde Deus não está. Na segunda parte do nosso texto (cf. Gn 3,1-7), o autor jahwista reflecte sobre a questão do mal. De onde vem o mal que desfeia o mundo e que impede o homem de ter vida plena? Esse mal – sugere o nosso teólogo jahwista – vem das opções erradas que, desde o início da história, o homem tem feito. Para dizer isto, o autor jawista recorre à imagem da serpente. Entre os povos antigos, a serpente aparece como um símbolo por excelência da vida e da fecundidade (provavelmente por causa da sua configuração fálica). Entre os cananeus, estava também bastante difundido o culto da serpente. Nos santuários cananeus invocavam-se os deuses da fertilidade (representados muitas vezes pela serpente) e realizavam-se rituais mágicos destinados a assegurar a fecundidade dos campos… Ora, os israelitas, instalados na Terra, depressa se deixaram fascinar por esses cultos e praticavam os rituais dos cananeus destinados a assegurar a vida e a fecundidade dos campos e dos rebanhos. No entanto, isso significava prescindir de Jahwéh e abandonar o caminho da Lei e dos mandamentos. A “serpente” surge aqui, portanto, como símbolo de tudo o que afasta os homens de Deus e das suas propostas, sugerindo-lhes caminhos de orgulho, de egoísmo e de auto-suficiência. Em conclusão: Deus criou o homem para ser feliz e indicou-lhe o caminho da imortalidade e da vida plena; no entanto, o homem escolhe muitas vezes o caminho do orgulho e da auto-suficiência e vive à margem de Deus e das suas propostas. Na opinião do autor jahwista, é essa a origem do mal que destrói a harmonia do mundo.

A segunda leitura propõe-nos dois exemplos: Adão e Jesus. Adão representa o homem que escolhe ignorar as propostas de Deus e decidir, por si só, os caminhos da salvação e da vida plena; Jesus é o homem que escolhe viver na obediência às propostas de Deus e que vive na obediência aos projectos do Pai. O esquema de Adão gera egoísmo, sofrimento e morte; o esquema de Jesus gera vida plena e definitiva.

Para deixar bem claro que a salvação foi oferecida por Deus aos homens através de Jesus Cristo, Paulo recorre aqui a uma figura literária que aparece, com alguma frequência, nos seus escritos: a antítese. Em concreto, Paulo vai expor o seu raciocínio através de um jogo de oposições entre duas figuras: Adão e Jesus. Adão é a figura de uma humanidade que prescinde de Deus e das suas propostas e que escolhe caminhos de egoísmo, de orgulho e de auto-suficiência. Ora, essa escolha produz injustiça, alienação, sofrimento, desarmonia. Porque a humanidade preferiu, tantas vezes, esse caminho, o mundo entrou numa economia de pecado; e o pecado gera morte. A morte deve ser entendida, neste contexto, em sentido global – quer dizer, não tanto como morte físico-biológica, mas sobretudo como morte espiritual e escatológica que é afastamento temporário ou definitivo de Deus (a fonte da vida autêntica). Cristo propôs um outro caminho. Ele viveu numa permanente escuta de Deus e das suas propostas, na obediência total aos projectos do Pai. Esse caminho leva à superação do egoísmo, do orgulho, da auto-suficiência e faz nascer um Homem Novo, plenamente livre, que vive em comunhão com o Deus que é fonte de vida autêntica (a vitória de Cristo sobre a morte é a prova provada de que só a comunhão com Deus produz vida definitiva). Foi essa a grande proposta que Cristo fez à humanidade… Assim, Cristo libertou os homens da economia de pecado e introduziu no mundo uma dinâmica nova, uma economia de graça que gera vida plena (salvação). Não é claro que Paulo se esteja a referir, aqui, àquilo que a teologia posterior designou como “pecado original” (ou seja, um pecado histórico cometido pelo primeiro homem, que atinge e marca todos os homens que nascerem em qualquer tempo e lugar). O que é claro é que, para Paulo, a intervenção de Cristo na história humana se traduziu num dinamismo de esperança, de vida nova, de vida autêntica. Cristo veio propor à humanidade um caminho de comunhão com Deus e de obediência aos seus projectos; é esse caminho que conduz o homem em direcção à vida plena e definitiva, à salvação.

O Evangelho apresenta, de forma mais clara, o exemplo de Jesus. Ele recusou – de forma absoluta – uma vida vivida à margem de Deus e dos seus projectos. A Palavra de Deus garante que, na perspectiva cristã, uma vida que ignora os projectos do Pai e aposta em esquemas de realização pessoal é uma vida perdida e sem sentido; e que toda a tentação de ignorar Deus e as suas propostas é uma tentação diabólica e que o cristão deve, firmemente, rejeitar. A catequese sobre as opções de Jesus aparece em três quadros ou “parábolas”. A primeira “parábola” (vers. 3-4) sugere que Jesus poderia ter escolhido um caminho de realização material, de satisfação de necessidades materiais. É a tentação – que todos nós conhecemos muito bem – de fazer dos bens materiais a prioridade fundamental da vida. No entanto, Jesus sabe que “nem só de pão vive o homem” e que a realização do homem não está na acumulação egoísta dos bens. A resposta de Jesus cita Dt 8,3 e sugere que o seu alimento – isto é, a sua prioridade – não é um esquema de enriquecimento rápido, mas é o cumprimento da Palavra (isto é, da vontade) do Pai. A segunda “parábola” (vers. 5-7) sugere que Jesus poderia ter escolhido um caminho de êxito fácil, mostrando o seu poder através de gestos espectaculares e sendo admirado e aclamado pelas multidões (sempre dispostas a deixarem-se fascinar pelo “show” mediático dos super-heróis). Jesus responde a esta tentação citando Dt 6,16, e sugere que não está interessado em utilizar os dons de Deus para satisfazer projectos pessoais de êxito e de triunfo humano. “Não tentar” o Senhor Deus significa, neste contexto, não exigir de Deus sinais e provas que sirvam para a promoção pessoal do homem e para que ele se imponha aos olhos dos outros homens. A terceira “parábola” (vers. 8-10) sugere que Jesus poderia ter escolhido um caminho de poder, de domínio, de prepotência, ao jeito dos grandes da terra. No entanto, Jesus sabe que a tentação de fazer do poder e do domínio a prioridade fundamental da vida é uma tentação diabólica; por isso, citando Dt 6,13, diz que, para Ele, só o Pai é absoluto e que só Ele deve ser adorado. As três tentações aqui apresentadas não são mais do que três faces de uma única tentação: a tentação de prescindir de Deus, de escolher um caminho de egoísmo, de orgulho e de auto-suficiência, à margem das propostas de Deus. Mas, para Jesus, ser “Filho de Deus” significa viver em comunhão com o Pai, escutar a sua voz, realizar os seus projectos, cumprir obedientemente os seus planos. Ao longo da sua vida, diante das diversas “provocações” que os adversários Lhe lançam, Jesus vai confirmar esta sua “opção fundamental” e vai procurar concretizar, com total fidelidade, o projecto do Pai. Israel, ao longo da sua caminhada pelo deserto, sucumbiu frequentemente à tentação de ignorar os caminhos e as propostas de Deus. Jesus, ao contrário, venceu a tentação de prescindir de Deus e de escolher caminhos à margem dos projectos do Pai. De Jesus vai nascer um novo Povo de Deus, cuja vocação essencial é viver em comunhão com o Pai e concretizar o seu projecto para o mundo e para os homens.

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