O renascimento literário anglocatólico

Por mais de cem anos, entre 1850 e 1960, alguns escritores ingleses produziram uma literatura católica de qualidade, numa quantidade surpreendente de obras. Alguns deles — como Tolkien, Chesterton e o beato Newman — são muito bem conhecidos. Outros, como Robert Hugh Benson e Hilaire Belloc, ainda não são universalmente reconhecidos. Alguns, como Graham Greene e Evelyn Waugh, debateram-se até o fim da vida acerca do sentido do catolicismo. E um deles até nem foi Católico: C. S. Lewis, autor de uma literatura completamente imbuída de princípios católicos.

Criativos e inteligentes, francos e decididos, esses escritores, e muitos de seus amigos e contemporâneos, produziram livros buscando compreender os problemas e perspectivas de nossa época, voltados sempre para Jesus Cristo como fonte eterna da graça.

Obras como O poder e a glória, de Greene, ou Breadshead revisited, de Waugh, apresentam personagens com temperamentos e debilidades muitíssimo parecidos com os nossos. Outras obras, como o épico da Terra Média de Tolkien, ou a Trilogia do Espaço de Lewis, produzem universos inteiros que nos remetem para o Cristo. A poesia de Belloc, os ensaios de Chesterton e os sermões de Newman atestam que o Cristo movimenta nosso mundo e nossos próprios corações.

Haveria muitas obras que recomendar. Ao abrir os livros desses autores, é preciso estar preparado para rir à vontade, mas também para ver com clareza, numa esplêndida visão, o poder, a ordem, o amor e a glória de Deus.

Confesso que tomei conhecimento do Renascimento Literário Anglo-católico durante meus primeiros anos de universidade, e foi lendo esses autores que finalmente me tornei católico.

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Amizade entre escritores foi algo bastante incentivado entre os Inklings, grupo informal de escritores que se reunia nos bares de Oxford, de preferência no “A águia e a criança” (que eles preferiam chamar de “O pássaro e o bebê”). Entre seus membros regulares estavam J.R.R. Tolkien, seu filho Christopher Tolkien, C.S. Lewis e o irmão mais velho deste, Warren Lewis.

A maioria dos Inklings foram cristãos sérios, e muitos deles verdadeiros católicos. Liam seus trabalhos em conjunto, com comentários, oferecendo sugestões e ajuda quando necessário. Em geral, eram amigos que compreendiam o poder de contar histórias — um poder que produzia virtudes comuns e uma cultura comum.

Os Inklings, movimento importante da “renascença literária anglo-católica”, são um modelo para estimular a vida intelectual católica. O espírito do grupo — fomento da amizade, predominância de valores cristãos e uma elevada concepção das artes — continha os elementos que sempre entusiasmaram o pensamento católico.

(James D. Conley é bispo da diocese de Lincoln, Nebraska, EUA. Este ensaio foi publicado no National Catholic Register, em 31 de maio de 2015)