A meditação constitui o segundo grau da oração, e é onde as almas “percebem melhor os chamamentos e convites diversos que faz o Senhor”.[1] Ensina-nos a teologia que a meditação “consiste na aplicação racional da mente a uma verdade sobrenatural a fim de nos convencermos dela e nos mover a amá-la e praticá-la com a ajuda da graça”.[2] Neste grau será essencialmente utilizada a razão, sem a qual a meditação não poderá efetivar-se. Por isso, proclamava o Apóstolo: “orarei com o espírito, mas orarei também com o entendimento; cantarei com o espírito, mas cantarei também com o entendimento” (I Cor 14, 15).
A meditação tem duas finalidades: uma intelectual e outra afetiva. A primeira é comparável a uma muralha inexpugnável que nos concede convicções firmes e enérgicas contra os inimigos da alma. Em outras palavras, é ela que, ao desaparecer a felicidade sensível e momentânea, cria raízes na alma e não deixa que, sem resistência, nos entreguemos ao menor sopro das paixões. “Não se pode construir uma casa sólida sobre a areia movediça do sentimento; é preciso um fundamento pétreo e inamovível das convicções profundamente arraigadas na inteligência”.[3]
Com efeito, é preciso que a meditação esteja acompanhada de nossos afetos, que é a parte principal da meditação:
Esta começa propriamente quando a alma inflamada com a verdade sobrenatural que o entendimento convencido lhe apresenta, prorrompe em afetos e atos de amor a Deus, com quem estabelece um contato íntimo e profundo […].[4]
Esta oração é um dom particularíssimo de Deus no qual as almas são introduzidas e inebriadas no amor divino. Ela é incompatível com o pecado, e os homens que não meditam, facilmente se deixam levar pelo ímpeto das paixões desordenadas. “Com os demais exercícios de piedade, a alma pode continuar vivendo no pecado, mas, com a oração mental bem feita, não poderá permanecer nele muito tempo: ou deixará a oração ou deixará o pecado”.[5] À alma absorta e embevecida não resta ocasião para pensar em si mesma, pois só se ocupa do que diz respeito ao Amado, como afirma São Bernardo: “rara é essa hora, e o tempo que nela se gasta é sempre breve, pois, por mais dilatado que seja, parece um sopro”.[6]
“O amor é fruto da oração fundada na humildade”.[13] Por ser esta forma de oração tão sublime, devemos pedi-la com verdadeira submissão, restituindo a Deus todos os benefícios que por meio dela recebemos.
Esse método de oração deve ser assíduo e perseverante. A alma que procura levar uma vida rumo à perfeição, entregando-se inteiramente ao apostolado, mas desprezando a oração mental, longe está da brisa da santidade, afirmam os teólogos. Continua o Doutor Melífluo:
Eu, por minhas forças, não posso chegar a esse amor, a essa união e contemplação tão levantada; só peço que Ele ma conceda a mim. Só o Senhor por sua bondade e gratuita liberalidade nos há-de levantar a este ósculo de seus divinos lábios, a esta altíssima oração e contemplação.[7]
Notas
[7] SANTA TERESA DE JESUS. Castelo interior ou Moradas. Op.cit. p.42.
[8] ROYO MARÍN. La oración del cristiano. Op. cit. p. 26. (Tradução da autora).
[9] Id. Teología de la perfección cristiana. Op. cit. p. 662.(Tradução da autora).
[10] Loc. cit. (Tradução da autora).
[11] Ibid. p.663. (Tradução da autora).
[12] SÃO BERNARDO, apud RODRIGUES, Afonso. Op. cit. p. 19.
[13] SANTA TERESA DE JESUS. Livro da vida. Op. cit. p. 73.
[14] SÃO BERNARDO, apud RODRIGUES, Afonso. Op. cit. p. 23.
(Este texto é parte do ensaio “A sublime escala da oração”, sobre os graus da oração católica, publicado na íntegra em http://ifte.blog.arautos.org/2016/02/a-sublime-escala-da-oracao/)