
Há muitos prodígios, mas nada
é mais prodigioso que o homem.
Mesmo através do mar grisalho,
por Noto invernal impelido,
ele vai, cruzando-o sob fundos
vagalhões ao redor, e a Terra,
dentre os deuses a suprema,
inexaurível, imortal, ele consome,
num ir e vir dos arados ano após ano,
revolvendo-a com espécie equestre.
A tribo das aves levianas,
a raça das feras agrestes,
e a prole marinha do ponto
faz ele cativas cercando-as
nas tramas de redes tecidas,
homem de engenho; com suas artes
domina a fera selvagem
nas montanhas, e com jugo em torno à cerviz
doma não só o cavalo de longas crineiras,
mas touro montês incansável.
Palavras e ágeis pensamentos,
e a índole para ordenar
as cidades ensinou-se, e a fugir
do ar livre em montes inóspitos
e dos dardos tempestuosos –
pleno é de meios, sem meios a porvir algum
ele vai; da Morte apenas
não terá como escapar,
mas de moléstias intratáveis
concebe a fuga.
Com tal aparato das artes,
um saber além do esperado,
vai ora para o mal, ora para o bem.
Honrando as normas da terra
e a justiça por deuses jurada,
alto é na pólis; da pólis um pária o que ao mal
se coliga por audácia.
Do meu lar não compartilhe,
tampouco de meus pensamentos,
o que age assim.
(Tradução de Márcio Mauá Chaves Ferreira)
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