
The Telegraph publicou os 2,3 milhões de palavras trocadas no WhatsApp por ministros do governo e seus assessores sobre a gestão da pandemia de Covid-19 [na Inglaterra].
Esses documentos foram repassados ao jornal por Isabel Oakeshott (editora internacional do canal Talk TV), a quem o ex-ministro da Saúde, Matt Hancock, havia confiado o material para que ela o ajudasse a co-escrever seu livro Pandemic Diaries. Apesar de assinar um acordo de sigilo, a jornalista entregou as mensagens de WhatsApp ao The Telegraph, por considerá-las de interesse público.
Hancock, junto com seus assessores e altos funcionários, procurou manipular a opinião pública para fazer avançar o que foi chamado de “Projeto Medo”, exagerando a periculosidade da situação sanitária para fazer com que os britânicos aceitassem as restrições com mais docilidade. As mensagens evidenciam uma constante preocupação da Hancock em zelar pela sua própria imagem, subordinando o aspecto médico das medidas de saúde ao seu interesse político, no contexto da sua estratégia de comunicação.
Apesar do refrão de que se tratava de “seguir a ciência”, há situações em que Hancock parece ter ignorado a opinião científica por razões políticas: em novembro de 2020, ele optou claramente por não substituir os 14 dias de confinamento impostos aos casos de pessoas que tiveram contato com infectados, por 5 dias de observação (opção recomendada pelo consultor médico Chris Whitty), considerando, entre outras, coisas que isso “implicaria admitir que estávamos errados”.
Uma das trocas de mensagens diz respeito ao tratamento da aparição da variante “Alpha” ou “Kent” do SARS-CoV2 em dezembro de 2020. Uma conversa com seu consultor Damon Poole dá a impressão de que Hancock viu a variante como uma ferramenta útil para reforçar a adesão do público à política governamental.
Hancock afirma que deseja “assustar a todos” e Poole responde que isto realmente “alcançaria uma mudança de comportamento adequada”. Hancock então pergunta: “Quando vamos informar o público sobre a nova variante?”.
Um mês depois, Simon Case – chefe do serviço público do Reino Unido – afirmou que o “fator medo/culpa” era um elemento “vital” da estratégia do governo para frear o vírus. Case chamou de “hilária” a quarentena de viajantes que retornavam à Grã-Bretanha.
Matt Hancock foi forçado a renunciar após a divulgação de evidências fotográficas, provenientes de seu escritório, de um caso extraconjugal, em violação de suas próprias regras de distanciamento…
https://www.lesalonbeige.fr/ils-voulaient-bien-gouverner-par-la-peur/
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