A recente editora Sétimo Selo, do Grupo Cedet (também responsável pelas bem sucedidas Vide e Ecclesiae), está repondo em circulação a Tragédia burguesa, o romance-rio de Octavio de Faria. Já foram lançados os dois tomos iniciais do conjunto: Mundos mortos e Os caminhos da vida.

Essa obra terá futuro, em país que parece divorciado da cultura mais elevada, que é um produto bimilenar do cristianismo? Um Octavio de Faria só se tornou possível, no Brasil, porque havia um público de literatura que ia à Missa e não implicava com as coisas de Deus; com o desaparecimento de uma clientela católica letrada a partir dos anos sessenta, na segunda metade do século XX, suas obras saíram de catálogo e foram condenadas ao silêncio.

Mas eis que recomeçam as conversões à Igreja. Não poucas pessoas das novas gerações, nascidas a partir dos anos setenta e oitenta, desiludidas com a falácia esquerdista e revolucionária, regressaram à religião de seus pais e avós.

Há atualmente, no Brasil, uma direita católica muito presente nas redes sociais da internet. Sacerdotes como o Padre Paulo Ricardo de Azevedo Júnior, movimentos como o Opus Dei, o Instituto Plínio Corrêa de Oliveira, ex-TFP (e mesmo sua dissidência comandada pelo paulista Orlando Fedeli), setores mais conservadores da Renovação Carismática, iniciativas como as do Centro Dom Bosco no Rio de Janeiro, sem esquecer a própria Fraternidade São Pio X — são, todos eles, fontes de renovação católica que, além de suas diferenças, têm atraído gente nova para a Igreja.

Esses jovens talvez não desgostassem de acompanhar o esforço verdadeiramente heroico do Padre Luís, na Tragédia burguesa, para salvar as almas de seus penitentes, arrancando-as da comodidade e da mediocridade burguesa. Esse padre católico é um bom padrão para de certo modo avaliar e compreender boa parte do clero atual, seduzido por teologias heterodoxas.

Não acredito que o Padre Luís de Octavio de Faria, se tivesse alcançado o Concílio Vaticano II, seguisse Monsenhor Lefebvre ou Dom Castro Mayer em sua insubmissão à Santa Sé. Contudo, mais preocupado com a alma dos fiéis do que com a mais-valia — era o anti-Leonardo Boff —, teria sofrido muito com os rumos da Igreja pós-conciliar.

À margem da modernidade e seus filhotes pós-modernos, um pequeno rebanho de novos leitores avança pelo deserto brasileiro, sedento de água potável. Com a reposição dos livros de Octavio de Faria no catálogo das livrarias, a presença perturbadora de Padre Luís e de suas dezenas de pecadores — com toda a espécie de pecados que o leitor possa imaginar — tem tudo para atrair esse público recém-chegado.

Trata-se de um público que já não aceita o que diz, por aí, muito romancista moderno — que a literatura nada pode “ensinar” —, pois sabe que da ficção ao mundo real a ponte é mais curta do que se imagina, e os romances podem, sim, interferir na maneira como lidamos com a realidade. Ou seja, quando sua fonte de criação também é a mesma realidade em que vivemos, e não aquela fantasia substitutiva, aquele faz-de-conta subjetivista que alimentou e continua alimentando a maior parte da criação literária contemporânea.

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