Hoje, de manhã cedo, fiz o que não fazia há muito tempo: um giro mais esticado pela internet. Depois de visitar os jornais de costume, dobrei a esquina e passei por alguns blogs, dei uma esticada até o bosque cerrado do google para pesquisar duas ou três coisas… Quando dei acordo de mim, a manhã já tinha ido embora.
Computador desligado, desmoronei na poltrona de leitura e respirei fundo. Comecei um balanço sincero de tudo aquilo que tinha lido nas últimas horas. As notícias falsas eram essencialmente as mesmas de sempre, mas as verdadeiras revelavam que o mundo continuava indo de mal a pior. Os dois ou três comentaristas políticos, que habitualmente leio, diziam quase o mesmo de quando os li da última vez: continuavam mergulhados até o pescoço na hora presente. Sempre interessantes e argutos, mas era perfeitamente possível viver sem sua interessante pregação ou inteligente escárnio.
Como exercer um controle pessoal mais estrito do fluxo de informações? Encharcados até os ossos por essa chuva cada vez mais torrencial, já não conseguimos ler em profundidade. Ciscamos e cascavilhamos mais do que digerimos. Nossa memória encheu-se de conceitos atomizados que quase não se organizam.
Tanta informação disponível, comparada com nossa limitadíssima capacidade de retenção, só tem uma virtude concreta: alimentar a ansiedade. Pessoalmente, tenho sincera saudade da época em que, para encontrar uma resposta qualquer, era preciso muitas vezes sair de casa e ir à biblioteca pública, ou mandar vir um livro da capital — que podia demorar duas ou três semanas para chegar —, ou simplesmente nos contentar provisoriamente com o silêncio. E o que era surpreendente: continuávamos vivos sem aquela dúvida que a mente desejava ardentemente ver solucionada. Vivos. Silenciosa e pacificamente vivos.
Hoje, perdemos a paz e estamos imersos num grande barulho, que já nem mais moderno é, pois é pós-moderno.
Para que a mente administre o grande volume de informações que chegam pelas mais diversas mídias, vêm em seu socorro os resumos. Vivemos na era dos resumos. Sinônimos não faltam para a exposição rápida de fatos e ideias: resumo, sumário, sinopse, síntese, e, para os que não gostam da própria língua, briefing. A ideia fundante é a da concisão. Hoje, todos são chamados a dominar a arte de guardar elefantes em caixas de fósforos.
Para os que gostamos de literatura, porém, nem sempre os resumos são benvindos, mesmo que pensem diferente os alunos que se preparam para o vestibular. Não há nada mais distante de uma grande obra literária do que o seu resumo, por mais bem feito que seja. Sua arte está oculta nos detalhes que, somados, configuram a sua grandeza.
Então, para que servem os resumos? Sua principal utilidade talvez seja tornar evitável a leitura das obras medíocres, as quais convêm conhecer, de um modo ou de outro, para que se tenha uma ideia mais abrangente da história da literatura. É útil conhecê-las, nem que de raspão…
O conhecimento dos vales, dizia Ortega y Gasset, torna mais prezável a grandeza das montanhas e dos cumes.
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