Originado da mitificação do selvagem e do rústico, o multiculturalismo foi uma pequena onda que começou no século XVIII, alargou-se no romantismo, e hoje, facilitado pela diminuição eletrônica das distâncias mundiais, tem lugar garantido nas ciências humanas e na vida cultural.
Rousseau talvez seja o principal patrono dessa tendência, que não se esgotou no século XIX e alcançou certas vanguardas primitivistas do início do século XX, fortalecendo-se com os movimentos contraculturais que se espalhariam pelo mundo ocidental, a partir dos anos sessenta, até instalar-se no próprio coração da universidade.
O multiculturalismo, nas últimas décadas, tem procurado apoiar-se no discurso científico, recurso usual das ideologias em sua busca de legitimação. Um exemplo é a obra Estruturas da mente: a teoria das inteligências múltiplas, de Howard Gardner, que ofereceu a presumível base neuropsicológica ao multiculturalismo e ajudou a justificar a “progressão automática” das escolas brasileiras — ou seja, a institucionalização da barbárie.
A ideologia multiculturalista — que coloca no mesmo nível todas as manifestações culturais — oferece preciosa munição aos planos da nova esquerda, que se disfarça sob a capa da democracia, do igualitarismo e da etiqueta politicamente correta para melhor construir as cadeias do novo totalitarismo que, segundo alguns autores, não será dolorido, mas prazeroso: a humanidade aprenderá a amar as coisas que irão destruí-la. Nada é mais destrutivo, para uma cultura, do que a perda do senso de mérito.
Uma coisa é o obrigatório respeito das diferenças, outra é a recusa de valorizar as manifestações culturais pelos seus merecimentos intrínsecos. A homogeneização não valorativa das culturas, no contexto atual, só pode ter um propósito: contribuir para descrédito da cultura cristã-ocidental.
Você precisa fazer login para comentar.