Esta foi uma semana complicada. Começou com um documento da Congregação para a Doutrina da Fé, endossado, é claro, pelo Papa. O documento rejeita a possibilidade de abençoar as uniões homossexuais porque, como diz o documento, “a Igreja não pode abençoar o pecado”. A partir daí, a tempestade desencadeou-se.

Alguns ficaram desapontados, como James Martin, o jesuíta pró-gay. Outros, como o presidente dos bispos alemães, disseram que a proibição não era para eles. Alguns disseram que tinham vergonha de ser católicos, como o Bispo Bonny de Antuérpia. Houve quem dissesse que não obedecerá ao que diz o documento e que continuará a abençoar casais homossexuais, como os mais de mil padres e diáconos na Áustria e na Alemanha, que se encontram abertamente em pé de guerra. Houve também a colorida nota extra-eclesial, dada pelo cantor Elton John, que acusou o Vaticano de hipocrisia por considerar a homossexualidade um pecado e, no entanto, financiar o filme Rocketman, dedicado à sua vida e como encontrou a felicidade numa relação homossexual.

Os “progressistas” eclesiais estão muito desapontados com o Papa Francisco, porque ele não lhes deu o que esperavam: nenhuma comunhão para os protestantes, nenhuma bênção para a ideologia do género, nenhuma aceitação do aborto e da eutanásia, nenhum casamento para os sacerdotes, e certamente nenhum sacerdócio para as mulheres.

Alguns dizem que devem ser pacientes e asseguram que, no próximo pontificado, terão tudo isso, uma vez que o Papa está preparando tudo com as medidas apropriadas. Mas muitos deles não suportam mais; e exprimem abertamente as suas críticas, até mesmo a sua recusa em obedecer. Os alemães dizem que darão comunhão a quem a pedir, e eles e os austríacos insistem que abençoarão a prática da homossexualidade. Outras coisas, como a comunhão indiscriminada para os divorciados e recasados, não são sequer mencionadas, porque são tidas como certas.

O que é positivo, se há algo positivo nesta situação, é que o que estava escondido está vindo à luz e a doença já mostra o seu rosto. Porque o problema tem uma longa história, e alguns dos erros foram cometidos há muitos anos atrás. Por exemplo, foi Bento XVI quem nomeou Monsenhor Bonny bispo, aquele que diz ter vergonha da sua Igreja; certamente, o Papa foi enganado, mas aí reside o problema, no grande número de nomeações erradas que tiveram lugar com Papas que não sabiam quem estavam nomeando. Outros erros estão mais perto de casa e Elton John tem razão em dizer que há hipocrisia no patrocinar um filme que elogia as relações homossexuais, ao mesmo tempo que as condena (o erro foi investir dinheiro nesse filme).

O cisma de fato, que temos vivido durante décadas, já está abertamente demonstrado; mas que o futuro será melhor para aqueles que querem uma Igreja que rompa com o passado e se acomode ao mundo, ainda não é coisa certa. Admitindo-se que o próximo Papa venha a ser um liberal radical, aprovando o que os progressistas querem, deixará de ir contra São João Paulo II ou Bento XVI, mas contra o próprio Francisco. Poderá esse futuro Papa dizer que o que se considerava pecado deixe de ser pecado, ou que aquilo que é proibido seja admitido? Por outro lado, os defensores da doutrina tradicional poderão usar os elogios que os progressistas dedicaram, todos estes anos, a Francisco, para rejeitarem ainda mais vigorosamente as mudanças que estes últimos querem impor.

Mas aconteceu mais coisas esta semana. Focalize-se apenas um: o retumbante fracasso dos católicos “protestantes” alemães em sua campanha contra o Cardeal Woelki, que é um dos poucos bispos naquele país que ainda são claramente católicos. Acusaram-no de ter dificultado a investigação de um abuso sexual na diocese de Colónia e pediram a sua demissão; foi um caso semelhante ao assédio contra o Cardeal Pell, embora Woelki só tenha sido acusado de cumplicidade. Esta semana, o relatório de uma comissão independente de investigadores tornou-se público e Woelki foi completamente inocentado. Mas o caso não terminou aí, porque o resultado da investigação apontou para o bispo progressista de Hamburgo, que se demitiu. Queriam se ver livres de Woelki e eliminaram um dos seus. Atingiu-lhes o tiro que saiu pela culatra.

Voltando ao tema principal da semana, é muito provável que nada aconteça e que aqueles que rejeitam a doutrina da Igreja continuem fazendo o que querem. Mas, se esta desobediência manifesta e pública for permitida, com que argumentos será reprimida uma desobediência proveniente do extremo oposto? Haverá dois pesos e duas medidas? Tornar-se-á a Igreja Católica uma espécie de Igreja Anglicana, onde teologias e liturgias radicalmente opostas coexistem, porque cada uma faz o que quer?

Temos de continuar rezando e confiar que Deus ama a Igreja mais do que nós a amamos, sabendo escrever certo com linhas tortas.