As palavras da influente congressista democrata Nancy Pelosi, acusando aqueles que são contra o aborto de serem inimigos da democracia, especialmente se votaram nos republicanos, desencadearam uma onda de críticas nos Estados Unidos, algumas delas vindas de bispos que não estão dispostos a submeter-se à ditadura do pensamento único. Nos Estados Unidos, esta dura acusação pode ser uma novidade, mas em outros países há muito que a suportamos.

Foi o filósofo marxista Gramsci que apontou o caminho para o que estamos vivendo hoje: a hegemonia cultural do que se costumava chamar “esquerda” e que, hoje, é quase impossível de descrever, porque é difícil identificar a esquerda clássica com políticos que vivem em mansões de luxo, na ilha exclusiva de Martha’s Vineyard ou em moradias caras em Galapagar. Os franceses, ironicamente, chamavam-lhes “gaúchos divinos”, porque eram os novos deuses. Os espanhóis, mais pragmáticos, chamam-lhes “esquerda caviar” porque falam sobre pobres, mas vivem como ricos. Essa esquerda, povoada de bilionários, é a que está promovendo a nova ordem mundial. O aborto faz parte da sua agenda, e já não como uma concessão feita às mulheres em situações extremas, mas como um direito. Que o aborto é um direito significa que qualquer pessoa que se lhe oponha deve ser considerada como um inimigo dos direitos humanos e deve sofrer as suas consequências. A Sra. Pelosi — que diz ser católica, embora talvez seja só uma pagã batizada — para além de dizer que os pró-vida não são democratas, errou ao pedir a aplicação da lei anti-terrorista sobre eles e sobre nós. A hegemonia cultural desta “esquerda divina e caviar”, e o pensamento único que querem implantar, levam inevitavelmente a isto: quem não pensa como eles, não só não tem direito a opinião, como nem sequer tem o direito de existir.

Mas não se trata apenas de aborto. É curioso e muito significativo que, dentro da Igreja, aqueles que são mais tépidos na defesa da vida ou que até justificam o aborto, sejam também a favor do resto do programa que nos querem impor: comunhão com pecado mortal e comunhão aos protestantes, aceitação da ideologia de gênero, sacerdócio feminino. Este é o pensamento único que o “clero caviar” quer impor-nos. E aqueles que não o aceitarem, pagarão as consequências, como pessoas iguais ao Cardeal Pell já sabem muito bem.

Nesta manipulação da verdade, que parte do princípio de que é verdade só o que eles pensam e publicam em seus poderosos meios de comunicação, a novidade agora é dizer que, se menos pessoas vão à Igreja, é porque há muitos padres, especialmente padres jovens, que são conservadores. Seria para uma boa risada, se não fizesse chorar. Dizem, com ar de felicidade, que as paróquias estariam mais cheias de paroquianos, e os seminários de vocações, se as teses do pensamento único liberal fossem definitivamente impostas e não encontrassem a oposição silenciosa de uma parte do clero, especialmente os mais jovens. Não importa que se trate de uma mentira, de uma óbvia mentira. A Igreja liberal está morta, mas tem o poder e a capacidade de reescrever a História, como os bilionários que promovem a nova ordem mundial estão fazendo.

No entanto, confrontam-se eles com dois inconvenientes, perante os quais o seu poder e os seus milhões se desmoronam: a natureza e Deus. A realidade existe; e a “verdade” publicada nos seus poderosos meios de comunicação não pode esconder a verdade real. E, acima de tudo, Deus existe; e é Ele, e não estes aprendizes de feiticeiro, que é o verdadeiro Senhor da História. “Não tenhais medo”, disse-nos Jesus, “eu venci o mundo”.