[O cardeal Van Thuan, falecido em 2002 e cujo processo de beatificação está em curso, passou treze anos nos cárceres comunistas do Vietnã. Conta, em suas memórias, essa história real, admirável pela mescla de simplicidade humana e profundidade espiritual].
Vem-me à lembrança uma história: a do velho Jim. Todo dia, às 12 horas, ele entrava na igreja, ficava não mais que dois minutos e depois saía. O sacristão, que era muito curioso, um dia o deteve e lhe perguntou:
— Por que você vem aqui todos os dias?
— Venho para rezar.
— Impossível! Que oração você pode dizer em dois minutos?
— Sou um velho ignorante. Rezo a Deus do meu jeito.
— Mas que coisa você diz?
— Digo: “Jesus, eis-me aqui, sou o Jim”, e me vou.
Passam os anos. Jim, sempre mais velho, fica doente e vai para o hospital, na enfermaria dos pobres. Parece que Jim vai morrer. O padre e a freira enfermeira estão perto de sua cama.
— Jim, diga uma coisa: por que, desde que você entrou nesta enfermaria, tudo mudou para melhor e o pessoal ficou mais contente, feliz e amigo?
— Não sei. Quando posso caminhar, vou aqui e ali, visitando todos, saudando todos. Converso um pouco. Quando estou na cama, chamo todos, faço todos rir, faço todos felizes. Com o Jim, todos estão sempre felizes.
— Mas por que você é feliz?
— Vocês, quando recebem uma visita, não se sentem felizes?
— Certamente. Mas quem vem visitar você? Nunca vimos ninguém.
— Quando entrei nesta enfermaria, pedi duas cadeiras: uma para você e outra para o meu visitante. Não veem?
— Quem é o seu visitante?
— É Jesus. Antes, eu ia à igreja visitá-lo. Agora não posso mais, e então às 12 horas, Jesus vem.
— Que coisa lhe diz Jesus?
— Diz: “Jim, eis-me aqui, sou Jesus”.
Antes dele morrer, nós o vimos sorrir e fazer um gesto com a mão, em direção à cadeira próxima à sua cama, convidando alguém a se sentar. Depois sorriu de novo e fechou os olhos.
[Cardeal Van Thuan. Cinco pães e dois peixes. Aparecida do Norte, Editora Santuário, 2000].
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