[Este artigo de Stefano Magni mostra como o mundo está vendo a pandemia no Brasil. Não passa dia sem que o noticiário não fale da tragédia da epidemia do Covid-19 no Brasil, atribuindo-se a culpa ao presidente do país. Depois da Suécia, seria o mau exemplo a ser evitado. Mas o jornalista observa que há nisto um equívoco: em relação à população, o Brasil ainda não registra a maior mortalidade do mundo].
Não passa um único dia sem que as notícias não falem da tragédia da epidemia da Covid-19 no Brasil. Em todos os telejornais, a culpa é atribuída exclusivamente ao presidente Bolsonaro, culpado de ser contra a estratégia do lockdown. Como aconteceu com a Suécia, no mês passado, nessas semanas do início do inverno brasileiro, o país sul-americano tornou-se o exemplo a não ser seguido, o país número um de contágios e vítimas causadas por uma política a ser estigmatizada.
Mas é verdade? Não. Ou pelo menos ainda não; esperemos que, para os brasileiros, nunca venha a ser.
Obviamente, não estamos falando de fake news: existe um fundamento de verdade nisso tudo. Infelizmente, o Brasil “se destaca” em dois aspectos importantes: o número de mortes diárias e o número de mortes semanais nas últimas duas semanas. Com 1037 mortes por dia e 7285 por semana, respectivamente (14.162 nas últimas duas semanas), o Brasil bate o triste recorde mundial das vítimas da Covid (fonte: Our World in Data). O fato que virou notícia, ontem, foi sobretudo o Brasil haver atingido a cifra dos 50 mil mortos. O Brasil é o segundo país do mundo que a ultrapassa, depois dos Estados Unidos.
Estamos falando, porém, de números absolutos e não relativos à população. O Brasil, de fato, é uma nação de 210 milhões de habitantes. Relacionando o número de vítimas do novo coronavírus por milhão de habitantes, vemos que o quadro muda.
O número de vítimas por milhão de habitantes é 238 (fonte Worldometer); portanto, o Brasil não é o primeiro em mortalidade, mas o décimo sétimo (17º) no mundo, depois da Bélgica, Reino Unido, Espanha, Itália, Estados Unidos, Holanda e todos os outros países afetados pela epidemia, que tem sido alvo dos comentários nos últimos três meses. Para fazer uma comparação, a Itália tem 573 vítimas por milhão de habitantes, mais do que o dobro dos 238 no Brasil. Se, em vez disso, formos ver o número de casos por milhão de habitantes, o país sul-americano, com 5115 positivos confirmados por milhão de habitantes, está na 24ª posição no mundo.
Como sempre, os números absolutos causam uma impressão decididamente maior; mas, se vinculados à população, o senso de catástrofe (mesmo permanecendo uma tragédia) é redimensionado. A situação na Bélgica é certamente muito pior do que no Brasil: com 837 mortes por milhão de habitantes, é o maior e verdadeiro doente da Europa, em situação bem pior que a do Brasil. Mas raramente é mencionada no noticiário, apesar de abrigar a maioria das instituições da União Europeia. No futuro, o Brasil poderá ultrapassar a Bélgica? É possível, mas até agora não a superou. Teríamos de entrar no terreno das previsões (que até agora não se mostraram muito confiáveis).
Então, por que sempre falar sobre o Brasil, quase obsessivamente? Não devemos esquecer que, mesmo durante o incêndio na Amazônia, em 2019, apenas o incêndio na região amazônica brasileira foi notícia e objeto de debate internacional, enquanto os incêndios na Venezuela, Paraguai e Bolívia nem foram mencionados. Só para o Brasil foi proposta a internacionalização das regiões amazônicas, tidas como um “bem global”.
Ainda continuando com o exemplo dos incêndios, a grande sensação mundial que causou no ano passado foi muito maior do que a causada pelos incêndios dos outros anos, que foram ainda mais extensos, especialmente em 2003, 2005 e 2010. Portanto, não é tanto o Brasil que é alvo de agitadores da opinião pública mundial, mas seu atual presidente, Jair Bolsonaro. Quando a Amazônia ardeu na época do presidente Lula, isso não dava notícia, nem sua internacionalização estava na agenda das grandes nações do mundo.
Mesmo agora, a epidemia da Covid-19, no Brasil de Bolsonaro, não é a mais difundida nem a mais mortal em comparação com o resto do mundo, mas é definitivamente a mais noticiada. Talvez porque o presidente seja abertamente de direita. E talvez, acima de tudo, por ele haver se oposto publicamente à estratégia do lockdown.
https://lanuovabq.it/it/covid-il-cattivo-esempio-ora-e-il-brasile-ed-e-sbagliato
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