[Enquanto explodem passeatas violentas de contestação pelas ruas dos Estados Unidos, França, Itália e até no Brasil, as quais, mais do que irrupções espontâneas, parecem sugerir a existência de um movimento internacionalmente concertado disposto a valer-se da circunstância atual de pandemia, ou pós-pandemia, dependendo do país — enquanto, enfim, o barulho disruptivo toma conta do noticiário, talvez seja bom lembrar das coisas permanentes.]
Num mundo como o nosso, em que nada permanece estacionado junto ao meio-fio, mas dispara velozmente pela rodovia da História, nada é mais necessário do que o conservadorismo, ou seja, um ponto de vista estável, construído com suor e sangue pelas gerações passadas, a partir do qual escolher e administrar as mudanças que devem ser incorporadas ao patrimônio herdado.
É muita presunção de alguns acreditar que a história humana só adquiriu inteligência nos últimos séculos, e que todo o ocorrido anteriormente não passa de rabiscos produzidos pelo jardim da infância da humanidade.
O conservador acredita noutras coisas. Por exemplo, que a essência dos homens não mudou desde os hebreus, gregos e latinos da antiguidade; e que as soluções que deram aos problemas morais e políticos de sua época ainda estão cheias de lições aproveitáveis.
Segundo o filósofo americano Russell Kirk (1918-1994), o conservadorismo é a negação de toda ideologia. Por isso, não tem um programa a seguir. Em vez de uma agenda fixa, trata-se antes “de um estado da mente, de um tipo de caráter, de uma maneira de olhar para ordem social civil”.
Alguns princípios fundamentam a mente conservadora, conforme a concebe Kirk:
— o conservador crê que existe uma ordem moral duradoura.
— adere ao costume, à convenção e à continuidade.
— acreditam no que se poderia chamar de princípio do preestabelecimento.
— é guiado pelo princípio da prudência.
— respeita o princípio da variedade.
— deixa-se refrear pelo princípio da imperfectibilidade.
— está convencido que liberdade e propriedade estão intimamente ligadas.
— promove comunidades voluntárias, assim como se opõe ao coletivismo involuntário.
— percebe a necessidade de uma prudente contenção do poder e das paixões humanas.
— compreende que a estabilidade e a mudança devem ser reconhecidas e reconciliadas em uma sociedade robusta.
Padre Paulo Ricardo fez uma bela tradução de pequeno ensaio em que Russell Kirk explica cada um desses princípios, e o publicou em seu site:
https://padrepauloricardo.org/blog/os-dez-principios-do-conservadorismo
Em seguida à tradução, entre as postagens de leitores que comentaram o ensaio, encontra-se um comentário do conhecido jornalista Aristóteles Drummond, em reação à legenda de uma das fotos que ilustram o texto (Hitler e Mussolini juntos num automóvel). A legenda diz o seguinte: “Hitler e Mussolini, exemplos de ideólogos que transformaram boa parte do século XX em um inferno terrestre”.
Aristóteles Drummond faz estas observações: “Não entendo o Padre Ricardo insistir em colocar Hitler com Mussolini. O italiano até ser levado à desastrada aliança sempre foi respeitado, fez o Tratado de Latrão, que criou o Vaticano, devolveu os crucifixos às escolas italianas, teve ótimo relacionamento com Pio XI e Pio XII. Padre Pio almoçou mais de uma vez com a D. Rachelle e filhos na Vila Torlonia. Enfim, não pode ser comparado um monstro como Hiller. Não é a primeira vez que vejo este equívoco do Padre Paulo Ricardo, que representa muito a Igreja que apreciamos, na linha do saudoso Dom Geraldo Proença Sigaud. Peço que medite sobre estas ponderações.”
Enfim, Mussolini e Hitler são farinha do mesmo saco? A propósito, há em nosso blog um interessante texto do prof. Nicolas Boer, “Duas expressões do espírito totalitário”, em que se destacam os pontos de contato entre Hitler e Stalin:
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