[O historiador italiano Roberto de Mattei, no recente artigo “Il vero pasticcio è la coabitazione dei due Papi”, escreve sobre a polêmica que explodiu após a publicação do livro sobre o celibato sacerdotal do cardeal Sarah e Bento XVI, confirmando a situação de dolorosa confusão que a Igreja enfrenta hoje. No trecho extraído do artigo, chama a atenção para um grave erro teológico do Papa Bento.]
(…) Desse episódio, no entanto, surge uma confusão muito mais grave, que é a da coabitação inatural, no Vaticano, dos dois papas, especialmente quando um deles, Bento XVI, depois de renunciar ao pontificado, mantém seu nome, conserva a veste branca, oferece a bênção apostólica, que é privilégio do Sumo Pontífice e, mais uma vez, quebra o silêncio a que se tinha votado. Em uma palavra, ele se considera papa, embora “emérito”.
Esta situação é consequência de um grave erro teológico do cardeal Ratzinger. Preservando o título de papa emérito, como acontece com os bispos, ele parece acreditar que a ascensão ao pontificado confere um caráter indelével semelhante ao do sacerdote.
Na realidade, existem apenas três graus sacramentais do sacerdócio: diaconato, presbiterado e episcopado. O pontificado pertence a outra hierarquia da Igreja — a de jurisdição ou governo —, da qual constitui o ápice. Quando eleito, o papa recebe o cargo de jurisdição suprema, mas não um sacramento indelével.
O sacerdócio não se perde nem com a morte, porque subsiste “in aeternum”. Em vez disso, pode-se “perder” o pontificado, não apenas com a morte, mas também no caso de renúncia voluntária ou de heresia manifesta e notória. Caso renuncie a ser pontífice, o papa deixa de sê-lo: não possui mais o direito de vestir-se de branco ou de conceder a bênção apostólica.
Do ponto de vista canônico, ele já não é nem mesmo cardeal, mas volta a ser um simples bispo. A menos que sua renúncia seja inválida: mas isso, no caso de Bento XVI, deve ser comprovado. De fato, o título de papa hoje é atribuído tanto a Francisco como a Bento, mas certamente um deles é abusivo, porque apenas um pode ser o papa da Igreja.(…)
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