feministas

O progressismo tem não sei quê de fundamentalmente surrealista, e é em seu seio que engorda o feminismo (uso o termo seio, aqui, sem nenhuma intenção transgressora, como seria lícito esperar do homem que escreve essas poucas linhas: machista, branco, católico, de menos de 50 anos).

O feminismo, o primeiro dos transhumanismos que, depois de Maio de 68, lidera o combate por justiça social, empreende a castração definitiva de um patriarcalismo fantasmagórico. Do lado de lá do Atlântico, e em breve será aqui na França, os Social Justice Warriors [soldados da justiça social], SJW para os íntimos, já tomaram de assalto os estúdios de Hollywood com seus grupelhos ideológicos, nascidos do ventre fecundo do dito progressismo e amamentado nos campi universitários americanos.

Até recentemente, o cinema tinha conhecido duas grandes revoluções. A primeira foi a passagem do preto e branco ao colorido. A segunda, com o seu engajamento acentuadamente antirracista, foi a passagem do colorido ao negro… Como dois avanços nunca vêm sozinhos, uma terceira revolução se impõe: à saga da mestiçagem obrigatória, tanto nas grandes como nas pequenas telas, introduz-se agora a revolução LGBT, com as cores do arco-íris.

Esta última se traduz pela produção, bem financiada, de reprises cinematográficas de antigos filmes de ação e super-heróis masculinos, sob a palavra de ordem do “assumam o clitóris!”, com o macho devidamente substituído pela fêmea emancipada e conscientizadora, numa lista cada vez mais ampliada de franquias cinematográficas representando ostensivamente o papel do Get Woke [acordar]. Get Woke, em dialeto progressista, é a tomada de consciência de certas injustiças que o homem branco tenta impor pelo viés patriarcalista: o conservadorismo, o racismo, a concepção tradicional de gênero, a “xeno-trans-homo-climato-Greta-etc-fobia” (ou qualquer outra injustiça social inerente a esse maldito patriarcalismo).

É a oligarquia LGBTófila que, pela propaganda, monopoliza agora a agenda ideológica da sociedade, utilizando todos os formatos midiáticos imagináveis, incluindo-se os jogos eletrônicos, os quadrinhos e evidentemente as plataformas de streaming [sites de assinatura de filmes] generosamente subsidiadas por nossas assinaturas. É o caso da Disney, que impele a doutrinação divulgando a seguinte advertência, no início de seus filmes: “culturalmente datados”; ou da Netflix, que ousa retratar um Cristo homossexual e a Virgem Maria como uma mulher comum.

A lista é longa: vai de As panteras [refilmagem de Charlie’s Angels, dos anos 70], Oito Mulheres e um Segredo [Ocean’s 8, sequência da trilogia Ocean’s de Steven Soderbergh], até o último O exterminador do futuro e os últimos episódios da saga Guerra nas estrelas; fala-se de um Zorro feminino e de uma reprise de Clube da Luta [Fight Club, de 1999), agora com grandes decotes e saltos altos.

Em 2018, a Disney sofreu um prejuízo estimado em quase 480 milhões de dólares. Salvo algumas poucas exceções, a maioria da xaropada produzida depois da ‘questão Weinstein’ [acusações de abuso sexual contra o produtor de cinema Harvey Weinstein], verte gotas de moralismo no molho Me Too [movimento politicamente correto contra o assédio sexual], doura no forno a diversidade cultural — e tudo muito bem mergulhado no molho esquerdista.

Get Woke, Go Broke! [Literalmente: tomem consciência e irão à falência. Frase cunhada em perspectiva conservadora, para alertar empresas que aderem ao politicamente correto e o risco de sofrerem financeiramente com isso]. Além de serem muito caricaturais para serem credíveis, essas histórias engajadas na cruzada social estão antecipadamente condenadas ao insucesso, porque a aceitação de uma obra pelo público depende mais do simbólico que a obra veicula, dos elementos inconscientes com que esta seduz, do que às admoestações explícitas e recorrentes da parte da casta artística e intelectual. Já nos bons e velhos tempos da propaganda marxista-leninista, os escritores comunistas dos anos 50 compreenderam que deviam veicular sua mensagem às escondidas, de forma subliminar, ao invés de fazê-la aparecer de maneira ostensiva na história.

O agente Ripley em Alien, Mary Poppins ou mesmo Maria em A noviça rebelde eram mais verossímeis, bem mais “sexy” que todas essas desleixadas feministas que pregam um comunitarismo não-binário [além do padrão masculino-feminino] e obcecadas pela toxicidade intrínseca do macho branco. Jeanne la pucelle [Joana a virgem, de 1994, sobre Santa Joana d’Arc] é substituída por uma Angelina Jolie lésbica e “poliamorosa”. Outra época, outros padrões…

Esta veleidade de marginalizar os homens, em tais feministas cegas em seu ódio pelo macho branco e católico, se traduz felizmente por uma contra reação: a de mulheres que se recusam a ver seus “homens” e seus filhos tratados com desprezo tão evidente, porque a promoção irracional de uma ideologia societária se choca sempre com as lições do mundo real — esse real trágico, sem disfarce nem maquiagem, em que os heróis masculinos que foram morrer em combate raramente respeitaram a paridade de gêneros.

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