Chartres-Cathedral

Todos conhecemos, meus irmãos e irmãs, as multinacionais que fazem comércio pelo mundo inteiro. Eis o grande furo jornalístico: a mais bela multinacional do mundo é a Igreja católica, espalhada por todas as nações! E nós a devemos ao Espírito Santo e a São Pedro, segundo a leitura dos Atos dos Apóstolos de hoje.

Pedro foi à casa de Cornélio, um pagão, um militar romano, com toda a sua comitiva; entrou em sua casa – o que é proibido a um judeu! – e, a pedido de Cornélio, ele o evangeliza, fala-lhe de Jesus, verdadeiro Deus, verdadeiro homem, crucificado e ressuscitado. Apenas termina a pregação, vem o Espírito Santo e paira sobre Cornélio e seus familiares.

Pedro se vê, então, diante de um problema: se já receberam o sacramento da confirmação, como poderia recusar a eles, agora, a água do batismo? E batizou, então, esses pagãos depois de uma catequese extremamente curta.

É graças pois ao Espírito Santo, e graças a Pedro e depois a Paulo, que a Igreja se torna uma verdadeira multinacional da fé, da esperança e da caridade através do mundo.

E foi isto que nos permitiu, a nós gauleses, celtas, atuáticos, nérvios e eburões, e outros povos daquela época, entrar finalmente na Igreja católica. Nesta Igreja católica que, como nós ousamos dizer no Credo, é una, santa, católica e apostólica.

Ouço às vezes as pessoas dizerem, nos tempos atuais, depois da revelação de tantos escândalos que nos prejudicam: “Ainda podemos dizer que a Igreja é una, santa, católica e apostólica?” E, no entanto, podemos sim: ela é santa, mesmo que seja composta de pecadores (e a prova disto é que nós estamos nela).

É, sim, composta de pecadores. Mas é também santa, pois o Santo de Deus, que é Jesus, é sua cabeça; porque o Espírito Santo é a sua alma; porque a Santíssima Virgem Maria é o seu coração; porque, para guiá-la nos caminhos da história, é sustentada pela Santa Tradição que vem dos Apóstolos e iluminada pelas Santas Escrituras; e porque, no coração da vida da Igreja, há isto que estamos fazendo agora: a celebração do Santo Sacramento da Eucaristia.

E para a Igreja sobreviver através dos séculos, a partir dos pecadores que a compõem, é capaz de produzir os santos e as santas – que todos nós teremos de ser também, mais cedo ou mais tarde.

 Para cumprir sua missão, a Igreja dispõe, como fonte de esperança e de paz, daquilo que ouvimos no Evangelho. São os dois versículos mais preciosos de todo o Novo Testamento: “Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo aquele o que Nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus não enviou o Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por ele”. É uma grande maravilha!

São Paulo a resumiu na segunda Carta aos Coríntios no capítulo 5, versículo 21, quando diz: “Aquele que não conheceu o pecado, o Santo de Deus”. Foi assim que o demônio dirigiu-se a Jesus: “Sabemos quem tu és, Jesus de Nazaré. Tu és o Santo de Deus”. E diz Paulo: “Aquele que não conheceu o pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nós nos tornássemos justiça de Deus.”

É preciso compreender por que Jesus desceu tão baixo, no abismo da solidão e do abandono, do frio e da angústia, sentindo-se abandonado por seus discípulos, e até, aparentemente, abandonado por seu Pai, ao ponto de gritar: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?” Se desceu tão baixo, foi para resgatar todos os homens e mulheres, por mais profunda que tenha sido a sua queda.

Aquele que crê nisto, que põe sua fé no Jesus que desceu ao fundo do abismo, é habitado por uma esperança inexaurível e recebe o dom da paz — mas por aquele preço, pago pelo que nos salvou. Na noite da Páscoa, no Evangelho de João, Jesus se dirige duas vezes aos discípulos, dizendo: “A paz esteja convosco”. E mostra-lhes as feridas de suas mãos e a ferida de seu lado: o preço que pagou para, subindo do abismo, nos trazer o dom da paz.

É o tema de vossa peregrinação: ser missionário da paz. Mas isso comporta um preço, um preço que nos faz refletir. No Evangelho de João está dito: “Os homens amaram mais as trevas do que a luz”. Devemos escolher a luz e nos conformar à vontade do Senhor a nosso respeito. E isto só se dá por um combate.

Jesus veio nos trazer a paz. Ele o diz explicitamente, na noite da Última Ceia: “Eu vos dou a paz, eu vos dou a minha paz. Eu não a dou como o mundo a dá”. E, nos evangelhos sinóticos, Mateus, Marcos, Lucas, ouvimos esta fala um pouco surpreendente: “Não penseis que Eu vim trazer a paz à terra. Não vim trazer a paz, mas a espada”.

Meus irmãos e minhas irmãs, missionários da esperança e missionários da paz: um irrecusável combate deverá ser travado. Vivemos atualmente, na Europa, uma grande confusão no plano político. Teremos de travar um combate.

Também na Igreja católica há muita confusão atualmente, em pontos importantes, referentes  à indissolubilidade do casamento, a relação entre a Aliança conjugal e a Aliança do sacramento da Eucaristia, o problema das práticas homossexuais, a questão do celibato dos padres na Igreja latina, e muitos outros assuntos. Uma grande confusão, espalhada por todos os lados.

Devemos ser gratos quando, sobre certos pontos, o nosso papa atual, papa Francisco, fala de maneira clara: podemos, assim, continuar a nos inspirar nos ensinamentos claríssimos e misericordiosos que nos deu Bento XVI, o papa emérito, e que nos deu São João Paulo II. Combatamos com firmeza e benevolência, com escuta e misericórdia. Mas temos de combater. E Jesus nos preveniu: no mundo tereis de sofrer, mas confiança, eu venci o mundo.

Termino com uma pequena palavra. Estou muito impressionado de ver todas as famílias que aqui estão reunidas. Pessoas estabelecidas em seu estado de vida, que são já casadas; ou, ainda, que são celibatários por escolha; ou celibatários em razão das circunstâncias da vida. Há ministros ordenados, há pessoas consagradas, mas também cheios de vida!

Então, meus caros jovens aqui presentes, frequentai Jesus de perto; é fonte de paz, mas talvez não seja assim tão fácil. Ele vai pedir à maioria de vós que forme um dia um lar sólido, o que quer dizer um homem com uma mulher e o Senhor no meio: uma bela “ménage à trois”. Um homem, uma mulher… e o Senhor, que é a unidade profunda de um casal.

 Ele vai pedir a alguns que vivam um celibato voluntário, que não se tenha escolhido por não ter encontrado nunca sua alma-irmã nesta vida. E será preciso que essas pessoas vivam seu celibato na verdade.

Mas Ele vai também, certamente, querer encontrar entre vós, moças, que pensem ser Jesus o mais belo de todos; e que, por seus belos olhos, vão abraçar uma forma ou outra de vida consagrada. Estais atentas, e sede acolhedoras, minhas jovens! E, entre os moços, ele vai querer encontrar alguns que aceitem se tornar pastores ao serviço da Igreja.

Em todas as dioceses da França e da Europa, começando pela diocese de Chartes, há necessidade de jovens que sejam de tal modo apaixonados por Jesus, que decidam lhe consagrar toda a vida — a Ele, assim como ao povo que Ele ama.

Não tenhais medo. No mundo, vós tereis de sofrer e fazer escolhas difíceis. “Mas confiança”, nos diz Jesus, “eu venci o mundo”. Amém, aleluia!

https://www.corrispondenzaromana.it/international-news/texte-de-lhomelie-de-mgr-leonard-a-chartres-lundi-de-pentecote-2019-retranscription-integrale/