eutanasia

O arcebispo Vincenzo Paglia, que desde 2016 é presidente da Pontifícia Academia para a Vida, disse há algumas semanas (v. aqui), em entrevista, que não via problemas em segurar a mão de alguém morrendo em suicídio assistido, nem vê nisso um apoio indireto à prática.

Era uma reação à postura dos bispos suíços, que um pouco antes divulgaram orientações sobre cuidados pastorais em relação ao suicídio assistido. O documento suíço dizia que agentes pastorais não deveriam estar presentes durante a morte de uma pessoa por suicídio assistido.

Segundo Paglia, ao contrário, “o Senhor nunca abandona ninguém”. Assim, acompanhar e segurar a mão de alguém que está morrendo é um grande dever dos crentes, mesmo que se oponham à cultura do suicídio assistido. E insistiu: “Deixe de lado as regras. Acredito que ninguém deve ser abandonado. Eu removeria a ideologia numa situação dessas”.

Alguns teólogos e padres já responderam às declarações do Bispo Paglia sobre o assunto, que soavam como um consentimento implícito à escolha de pôr fim às própria vida, reafirmando que isso poderia contradizer o dom divino da vida humana e, de alguma forma, justificar o ato.

Nos últimos dias, foi o cardeal Willem Jacobus Eijk (de Utrecht, na Holanda) que voltou ao assunto. O cardeal, que dedicou seus estudos médicos, antes de seguir o sacerdócio, precisamente sobre as questões da eutanásia, mandou um recado claro aos padres: “Um padre deve falar claramente com uma pessoa que opta por suicídio assistido ou eutanásia voluntária, esclarecendo-lhe que está cometendo um pecado muito grave. Pela mesma razão, ele não pode estar presente quando a eutanásia voluntária ou suicídio assistido são realizados. Isso pode indicar que o padre não veja nenhum problema com a decisão; ou até sugerir que esses atos, moralmente ilícitos, não o sejam em certas circunstâncias”.

“Um padre deve dizer claramente àqueles que optam pelo suicídio assistido ou pela eutanásia [voluntária] que ambos os atos violam o valor intrínseco da vida humana, e que isso é um pecado grave”. É tão grave o pecado para o paciente quanto para o médico, seja no caso de suicídio assistido como no de eutanásia voluntária. Por causa deste pecado grave, é impossível pedir um funeral com ritual cristão: “Se um paciente, antes que o médico termine sua vida a seu pedido, ou cometa suicídio ,  pede ao padre que administre os sacramentos (confissão ou unção dos enfermos) e faça um funeral católico, o padre não pode fazê-lo”.

Não pode por três razões. Primeiro, porque uma pessoa só pode receber os sacramentos quando está em boa disposição; nesse caso, porém, a pessoa pretende se opor à ordem da criação, violando o valor intrínseco da sua vida. Segundo, a pessoa que recebe os sacramentos coloca sua vida nas mãos misericordiosas de Deus (aqueles que querem acabar com a própria vida, julgam que tem poder sobre ela e colocam o “eu” no lugar de “Deus”). Terceiro, o padre que administra os sacramentos, ou planeja um funeral nesses casos, é culpado de escândalo, pois suas ações podem sugerir que o suicídio ou a eutanásia sejam permitidos em determinadas circunstâncias. Os padres podem “com extrema sabedoria” decidir exceções apenas no caso de o paciente não ter plena consciência ou liberdade, devido à sua doença.

O cardeal Eijk reiterou que a única maneira de a Igreja combater a tendência pró-eutanásia é “anunciar que Deus criou o homem à sua imagem em sua totalidade: corpo e alma”. Portanto, não é lícito sacrificar a própria vida ou a do próximo. O cardeal Eijk é uma testemunha direta do problema, que atormenta tanto idosos como jovens holandeses. Essa lei, em vigor desde 2001-2002, destrói milhares de vidas todos os anos e está realmente se ampliando, entre escândalos e práticas abusivas, indo desde doenças incuráveis que causam sofrimento permanente, até muitas outras doenças, inclusive sofrimentos passageiros.

O prelado holandês sabe do que está falando, especialmente diante dos recentes casos holandeses de pessoas saudáveis que pediram (e obtiveram) sua morte apenas porque “já se sentiam plenamente satisfeitos com suas vidas”, ou então pessoas com problemas psíquicos. Nos últimos dias, surgiram as notícias de que, na Holanda, apenas na Clínica de Especialistas em Eutanásia, mais de 100 pacientes com doenças mentais teriam sido colocados nas listas de espera pela eutanásia, entre 800 pacientes em toda a Holanda; e 67 já teriam sido mortos só neste 2019. Dados chocantes que levaram o Presidente da Associação Psiquiátrica Holandesa a tomar providências: “Não podemos ter certeza de que o desejo de morrer seja consequência do sofrimento dos pacientes, e nem se tudo foi feito realmente para aliviar tal sofrimento”.

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