A presença da Virgem Maria — cuja figura estará no centro do evangelho, no domingo imediatamente anterior ao Natal — aparece desde o início do Tempo do Advento com esta solenidade da Imaculada Conceição.
Neste dia, a Igreja celebra em Nossa Senhora o fruto antecipado da redenção que Jesus realizou com sua Paixão, Morte e Ressurreição, eximindo-a, desde o primeiro momento de sua existência, daquele estado fundamental de pecado — o “pecado original” —, que em todos as demais pessoas, exceto o homem Jesus e ela própria, assinala a natureza humana.
Por isso, a primeira leitura relaciona a história do “pecado original” com a profecia da Mulher (precisamente Maria Santíssima) que “esmagará a cabeça” da serpente, de Satanás tentador. Por uma trama misteriosa e providencial, na qual vemos os tempos da nossa cronologia histórica serem governados e superados pela eternidade, os méritos da Paixão de Cristo, cronologicamente posteriores à concepção de Maria por seus pais (Joaquim e Ana), produziram antecipadamente o efeito da Graça, de forma especial para Ela, a primeira redimida, justamente em sua concepção, isentando-a de todo vestígio de pecado, para que pudesse ser morada digna da Palavra que se fez carne.
Deus “é o Senhor do sábado” (Marcos 2, 28), do tempo histórico, por Ele criado, e no qual deseja que vivamos. Essa “lógica da antecipação” da Graça, que preenche toda a existência de Maria Santíssima (como o confirmará o arcanjo Gabriel, chamando-o de “cheia de graça”, em Lucas 1,28) desde o momento de sua concepção, parece sempre acompanhá-la, dotando-a de um “carisma profético”, para o benefício daqueles que se voltam para Ela, individualmente ou como povo cristão.
O próprio Evangelho documenta esse seu papel de “antecipadora”, quando Ela intervém para pedir a Jesus que realize seu primeiro milagre, em Caná da Galiléia: com sua “poderosa discrição”, assinala a falta de algo que deveria estar lá (“Eles não têm mais vinho”, João 2, 3).
Também a descreve como a que “antecipadamente”, profeticamente, protege aqueles “Mistérios da vida de Cristo”, os mysteria vitae Christi, como eram chamados pelos Santos Padres e pelos teólogos medievais, que se cumpririam durante a vida do Filho (“Maria conservava todas essas palavras, meditando-as no seu coração”, Lucas 2,19; foi informada, com antecedência, que uma espada transpassaria a sua alma, Lucas 2, 35; com José, que a acompanhou na vivência desse “carisma”, Ela teve de compreender “antecipadamente” os acontecimentos futuros, e que Jesus tinha de cuidar “das coisas do Pai”, Lucas 2, 49).
Durante a história da Igreja, Maria “antecipou” e “acompanhou” o caminho de fé de todos aqueles que, “individualmente” e “como povo”, se confiaram Nela, invocando-a especialmente com a oração do Angelus, que marca os três momentos principais do dia em que nos reunimos, nos mosteiros, para a oração da manhã, do meio dia e da noite; com a oração do Santo Rosário, a qual, com seu ritmo regular e repetitivo, pontua como um relógio o tempo em que nos ocupamos exclusivamente com Ela, para com Ela estarmos na companhia de Cristo, meditando os principais mistérios de Sua vida; e, por fim, com as mais diversas formas de invocação (cânticos, hinos e orações) que a Revelação e a Tradição legou aos fiéis e a toda a Igreja.
E, ainda, Maria profeticamente “antecipou”, com suas aparições extraordinárias ao longo da história da Igreja, os momentos mais difíceis e dramáticos de provação que a comunidade cristã teria de enfrentar, preparando, assim, aqueles que a ouvissem, para estar prontos para a prova — em estado de Graça.
A solenidade da Imaculada Conceição de Maria, no advento deste ano, pede a vigilância daqueles que se reconhecem mais próximos do fim dos tempos e da segunda vinda de Jesus, em Sua glória. Os sinais apocalípticos já começaram a se anunciar e em parte já se realizam. A apostasia na Igreja encontra-se, atualmente, em um estado muito avançado; não o perceber, fingindo que nada está ocorrendo, é uma tolice pela qual corremos o risco de pagar muito caro, e por toda a eternidade.
Para evitar esse trágico fim, confiemos mais intensamente na intercessão de Maria Imaculada, rezando, com mais afinco do que nunca, para ter a sua presença protetora; e procuremos nos aproximar, mais frequentemente, dessa fonte da Graça que são os sacramentos da Penitência e da Eucaristia, juntamente com a fidelidade ao Evangelho e ao verdadeiro Magistério da Igreja, aprendendo a nos proteger das falsificações que se propagam por aí e adquirindo a capacidade de julgar, de acordo com a verdade, os eventos de nossos tempos. Que Maria Imaculada, Mãe da sabedoria, seja a nossa guia.
[Padre Alberto Strumia nasceu em Ravena, Itália, em 5 de julho de 1950. É matemático, físico, teólogo e filósofo. É professor e tem várias obras publicadas. Uma de suas linhas de pesquisa é a relação ciência e fé. Mantém o site http://www.albertostrumia.it%5D
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