O mundo precisava de amor:
Na véspera de Vossa Morte nos deixastes um legado:
A Hóstia para matar fome e sede.
E vossa Missão terminada subistes para a direita do Pai
E Lhe mostrastes as cicatrizes que Vos deixamos no corpo.
Pai Amado, eu que sou a realização de Vosso Pensamento,
Dai-me complacências.
Senhor, minha Fé é diminuta: aumentai-a.
Dai-me olhos de contemplação,
Dai-me respostas,
Dai-me um cavalo de Vosso Reino
Que tomando as rédeas de minha mão me leve para Damasco.
Pai Amado, sou cego, aleijado, e paralítico:
Meus membros não darão na Cruz.
Estou calejado de perenes quedas:
Curai-me todo.
Transformai-me como transformastes o vinho.
Não me abandoneis em interrogação permanente.
Dei-vos uma costela para fazerdes Eva
E as 23 restantes a Satã para corrompe-la.
Sou colono e amicíssimo de Lúcifer.
Sou da primeira serpente, sou um prisioneiro da primeira guerra.
Dai-me um cavalo de Vosso Reino para ir a Damasco!
Sou fornecedor de armas para os filisteus.
Sou o que torpedeia a Arca e a Barca.
Sou reconstrutor de Babel.
Sou bombeiro do incêndio de Sodoma.
Fui demitido da Vida,
E Vós me enviastes outra vez.
Demiti-me de novo que errei mais!
Sou o assassino de Lázaro,
Sou plantador de joio:
Dai-me um cavalo para eu fugir!
Quis afogar São Cristóvão,
Transformei as algas em micróbios
E as asas em aviões de guerra!
Quis afogar São Cristóvão,
Transformei as algas em micróbios
E as asas em aviões de guerra!
Deus Amado, Vós que tendes sido meu paraquedas,
Meu ascensor, minha escada, minha ponte,
Segurai-me para que eu não me precipite dos arranha-céus!
Dai-me um cavalo para eu fugir!
Dai-me um cavalo de Vosso Reino
E que eu sem querer vá para Damasco.
Amado-Pai, no caminho de Damasco
Basta uma sílaba para eu enxergar de-novo,
Ou um coice de Vosso cavalo para eu despertar na Luz!
(Jorge de Lima, Obra poética. Pref. de O. M. Carpeaux. Rio de janeiro, Ed. Getúlio Costa, 1949, p. 262)
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