[Em 17 de outubro de 1849, 170 anos atrás, morria aos 39 anos o pianista e compositor polonês Frederic Chopin. Em Paris, para onde foi muito jovem, logo perdeu a fé católica que tinha trazido da Polónia natal. No fim de sua curta vida, um conterrâneo que vivia na França, padre Jelowicki, conseguiu sua conversão, depois da relutância inicial do grande compositor. O texto a seguir, escrito por Massimo Scapin, colunista musical do jornal italiano La Nuova Bussola Quotidiana, são os parágrafos finais de seu artigo sobre a volta de Chopin ao catolicismo.]
A saúde já delicada, especialmente pelas infecções pulmonares cada vez mais graves e frequentes, enfraqueceu muito Chopin nos últimos anos de vida. Um dos mais ilustres migrantes poloneses da época, o Padre Alexander Jelowicki, que foi um dos amigos mais próximos de Chopin, se aproximou da cabeceira do músico moribundo. O próprio padre relatará em detalhes o retorno de Chopin à fé antiga (James Huneker, Chopin: The Man and His Music, New York: Charles Scribner’s Sons, 1918, p. 78-84).
O padre Jelowicki aproveita o humor ameno do compositor para conversar com ele sobre sua amada mãe Justina, que tinha sido uma boa cristã. “Sim”, respondeu Chopin, “para não ofender minha mãe, eu estaria disposto a receber os sacramentos antes de morrer. Mas eu não os compreendo como você gostaria. Concebo a confissão como uma efusão do coração nas mãos de um amigo, mas não como um sacramento. Por isso, confessarei de bom grado a você, porque lhe quero bem, mas não porque eu ache necessário».
Mas o padre não se desespera da graça, que parece próxima. Na noite de 12 de outubro de 1849, o médico do músico, convencido de que Chopin não passaria daquela noite, ligou para o reverendo Jelowicki, que chegou rápido. O moribundo aperta a mão dele, mas o convida a sair; garante que lhe quer muito bem, mas não deseja falar com ele. No dia seguinte, quando São Eduardo, o Confessor, é celebrado no martirológico tradicional, o padre Alexander celebra a Missa pelo sufrágio de seu irmão, Edward, fuzilado em Viena durante as revoltas de 1848 e ora pela alma de Chopin. Voltou alguns dias depois ao quarto do compositor e lembrou-o de que, naquele dia, se comemorava o santo que tinha o mesmo nome de seu pobre irmão, de quem Chopin gostava muito. “Não vamos falar sobre isso!”, gritou o moribundo. “Querido amigo”, continua o padre, “no dia do santo do meu irmão, você deve me dar um presente.” “O que devia lhe dar?”, perguntou Chopin. “Sua alma”, respondeu o padre. «Compreendo. Pois aqui está minha alma; leva-a”.
O músico apertou contra o peito o crucifixo que lhe foi oferecido pelo padre Jelowicki. Professou em seguida a fé em Cristo, que sua mãe lhe ensinou na Polônia, e recebeu logo os sacramentos que preparavam seu encontro com o Deus vivo. Sua agonia durou quatro dias, mas ele se resignou. Era paciente e às vezes sorria. O padre escreve: «Ele abençoou seus amigos; e quando, depois de uma aparente última crise, viu-se cercado pela multidão que enchia seu quarto naquele dia e naquela noite, ele me perguntou: «Por que eles não rezam?» Com essas palavras, todos se ajoelharam e até os protestantes juntaram-se às ladainhas e orações pelos moribundos»
.Entre as últimas palavras de Chopin estavam essas: “Sem você, meu caro amigo, eu teria morrido como um porco” (Wierzynski, A vida e a morte de Chopin, Nova York: Simon e Schuster, 1949, p. 412). Invocou os nomes de Jesus, Maria e José; depois pegou o crucifixo, pressionando-o junto do coração e dizendo com gratidão: “Agora estou nas fontes da felicidade”.
No apartamento parisiense de número 12, da Praça Vendôme, agora sede de uma joalheria, às 2 horas da manhã de quarta-feira, 17 de outubro de 1849, “o rebelde músico polonês” entregava a alma a Deus. Tinha 39 anos de idade. Concluiu o padre Jelowicki: “Foi assim que morreu Chopin. Na verdade, sua morte foi o mais belo concerto de sua vida” (Huneker, op. cit., p. 83-84).
https://lanuovabq.it/it/la-straordinaria-conversione-di-chopin
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