[Sairá na Itália, nos próximos dias, a nova edição de Hipóteses sobre Jesus, o primeiro livro de Vittorio Messori, que o tornou famoso em todo o mundo. Será reeditado pela editora Ares. Publicado em 1976, vendeu mais de um milhão de cópias na Itália e foi traduzido para 22 idiomas. O texto a seguir é o prefácio da nova edição.]
Enquanto escrevo essas linhas, quarenta e três anos se passaram desde o lançamento deste livro e foram feitas muitas reimpressões até agora. Uma longevidade editorial que, acredito eu, tem a sua razão de ser, se refletirmos no fato de que o tema com o qual estamos lidando aqui (o exame histórico das raízes do cristianismo, para examinar a sua solidez) é e sempre será atual.
Os homens sempre se confrontarão com o Evangelho, fazendo antes de tudo aquela pergunta fundamental: “É verdade ou não? É mito ou história?” Eu acredito que venha daí o sentido dessas páginas, qualquer que seja o seu valor. Entre outras coisas, o desejo, se não a necessidade, de uma pesquisa como essa me foi confirmado nos últimos meses.
Tentarei explicar como e por que, começando necessariamente de longe, a partir de 1976. Nesse ano, o livro foi publicado pela editora Sei de Turim, herdeira da tipografia salesiana fundada por São João Bosco para dar ocupação aos seus jovens e enfrentar os escritos da cultura anticlerical, então hegemônica. Naquele 1976, eu era jornalista profissional no La Stampa, em Turim, e fazia parte do pequeno grupo encarregado do semanário Tuttolibri, que, como o título sugere, cuidava de todos os trabalhos publicados na Itália e gozava do prestígio de um jornal que era então ultrapassado, em sua distribuição, apenas pelo Corriere della Sera.
O meu trabalho me punha sempre em contato com as editoras, grandes e pequenas, que apreciavam ter boas relações comigo. Eles esperavam, como é compreensível, que saísse a resenha de seus livros naquele jornal de grande circulação. Hipóteses sobre Jesus foi minha primeira experiencia como autor, mas, na situação objetivamente privilegiada em que eu estava, teria portas abertas em todos os lugares do mundo editorial, mesmo nas editoras de maior porte e mais seculares, apesar do conteúdo explicitamente católico daquelas minhas páginas.
E, em vez disso, escolhi a Sei: primeiro, por minha devoção pessoal a São João Bosco e, depois, pela amizade com aquela empresa, a primeira onde trabalhei, depois de me formar; e onde, depois de entrar como editor, logo me tornei responsável pela assessoria de imprensa. Não fiquei desapontado: aquela histórica Casa era conhecida, principalmente, por seus livros escolares, e, como tal, possuía uma vasta rede de divulgação e distribuição para tudo quanto é tipo de livro.
Pois bem, depois de décadas — e após um número surpreendente de cópias vendidas, além de traduções para o exterior —, comecei recentemente a receber telefonemas e e-mails: eram pessoas reclamando que queriam comprar o livro Hipóteses sobre Jesus, mas não conseguiam encontrá-lo. De início, pensei que estivesse para sair mais uma edição, mas soube depois que a Sei havia decidido se concentrar apenas em obras didáticas, juntando-se a outra casa antiga que atuava no mesmo setor, La Scuola di Brescia. Portanto, o catálogo onde estavam o meu Hipóteses sobre Jesus e outros quatro livros meus, tinha sido suprimido.
Quando, no mundo editorial, soube-se que minhas obras estavam livres, surgiriam várias propostas para republicá-los. Contudo, mais uma vez preferi um editor de médio porte, Cesare Cavalleri, apreciado também em ambiente secular, apesar de ser explícita e firmemente católico.
Da Ares, Cesare Cavalleri foi o fundador e ainda é, após décadas, o seu incansável diretor, como também do respeitado mensário Estudos Católicos. Cesare sempre foi, para mim, um amigo em quem se podia confiar. Com a mudança de editora, aproveitei a oportunidade para reler as Hipóteses sobre Jesus, intervindo apenas marginalmente, com retoques que deixam o texto original essencialmente intacto. E no qual ainda me reconheço, sem dúvidas e sem arrependimentos: graças a Deus, os últimos quarenta e três anos não afetaram minha confiança na veracidade dos Evangelhos. De fato, o aprofundamento dos estudos confirmou-me a verdade do grito apaixonado de Ricardo de São Victor, o grande teólogo beneditino, com que termino o livro. Um grito que me parece sintetizar bem a conclusão do meu trabalho de escavação do mistério de Cristo: “Senhor, se erramos, foste tu que nos enganaste!”
Nesta nova edição, há apenas uma intervenção significativa: a exclusão do segundo capítulo, intitulado “Um Deus oculto e desconfortável”, a única parte do livro em que hoje — depois de tantas outras leituras e reflexões — me reconheço apenas em parte. Em vez de intervir com modificações, preferi abandonar essas páginas, distribuindo nas seguintes o que me parecia ainda válido. Assim, desisti de propor aos leitores a tese sustentada pelo meu ainda querido Blaise Pascal, a qual, na releitura, parecia marcada demais pelo fervor do recente convertido que eu ainda era, quando escrevia as Hipóteses. O próprio Pascal era um convertido e, deslumbrado pela redescoberta do Cristo, chegou a escrever que, para aqueles que têm o Evangelho, “toda a filosofia não vale uma única hora de esforço”. Ou ainda: “Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó, não de filósofos e estudiosos”.
Extremismos que, na época, também me convenceram: levei algum tempo para descobrir como todo o cristianismo, em sua versão católica (que é a minha, como também a do brilhante Blaise) se baseia em et-et, “Isto, mas também aquilo”, frequentemente na união de opostos, transfigurado em síntese. Como Jean Guitton me disse (um dos mestres a quem devo muito, especialmente este livro): “Sou católico porque quero tudo e não desejo renunciar a nada”. Portanto, filósofos e teólogos, sábios e crentes caminham necessariamente juntos. Não por acaso, nos programas educacionais para seminaristas católicos, o estudo da filosofia precede obrigatoriamente o da teologia.
Qualquer pessoa que queira se aprofundar nesse importante aspecto da fé (et-et, não au-aut) poderá encontrar uma espécie de pequeno catecismo no trabalho que me aventurei a escrever e publiquei sob o título de Algumas razões para crer (Ares, 2008). No entanto, a remoção daquele capítulo não afeta, de maneira alguma, o restante das Hipóteses sobre Jesus, que é essencialmente uma obra de historiador.
http://www.lanuovabq.it/it/la-verita-dei-vangeli-una-sfida-che-attraversa-la-storia
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