sarah

[O arcebispo emérito de Tânger, cidade do Marrocos, é o espanhol  Santiago Agrelo. Fez uma conferência no dia 29 de setembro, em Madri, na 105ª Jornada Mundial dos Migrantes e Refugiados. Nela, criticou o cardeal africano Robert Sarah por suas posições contra a migração em massa da África (segundo Sarah, é preciso criar condições para que os africanos permaneçam em seus países de origem). “Ser cristão como o Cardeal Robert Sarah é fácil”, disse o arcebispo Agrelo. Quando lhe perguntaram sobre as declarações do cardeal Sarah sobre os refugiados, Agrelo teria lamentado a “ideologia ultrapassada” do cardeal guineense, uma ideologia com a qual muitas pessoas “se sentiriam seguras e tranquilas”. “Esse homem gostaria de voltar à missa em latim, de costas para o povo. Que proveito se tira dessa mentalidade? Ser cristão assim é fácil. Eu vou à missa todo domingo, subo ao céu, volto do céu, evitando passar pelo purgatório, ignorando o vizinho que não tem emprego ou está doente… É uma maneira de ser cristão que agrada a muitas pessoas. Estou convencido de que o Evangelho é o contrário”.]

O cardeal Robert Sarah é negro.  Nasceu num vilarejo remoto da savana, na República da Guiné, país majoritariamente muçulmano. Sua família era animista, de uma tribo minoritária. Foi circuncidado com 12 anos e iniciado na difícil vida adulta da selva. Seus pais, atendidos por missionários franceses, se converteram. Sarah foi a Roma para estudar e conseguiu ordenar-se sacerdote, enquanto seu país sofria sob o regime sanguinário do marxista Sekou Touré (o bispo de Conakry, a capital da Guiné, foi preso e torturado).

Voltou de Roma para a República da Guiné como humilde pároco. Caminhava a pé pela savana para chegar até o último de seus fiéis. Em 1978, Paulo VI o nomeou Bispo de Conakri, o mais jovem do mundo, aos 33 anos, diante de um Sekou Touré cada vez mais enfurecido contra esse novo pastor, que era um defensor indomável da fé. Após a morte repentina do tirano, em 1984, se descobrirá que Sarah era o primeiro na lista de inimigos a ser eliminados.

Ele tem sido muito fiel ao Papa Francisco em todas as suas declarações, o que não o impediu de se lembrar de aspectos repetidamente esquecidos de nossa fé em afirmações que lhe renderam um verdadeiro ostracismo, às vezes humilhante, e o ataque conjunto daqueles que falam de existência de um “cisma tradicionalista”.

Mas, nas palavras de Agrelo, o cristianismo de Sarah é “fácil” e o dele, imaginamos, terrivelmente arriscado e difícil.

https://infovaticana.com/2019/10/01/agrelo-y-el-cristianismo-facil-de-robert-sarah/