Lamenta-se hoje a pobreza (para não dizer indigência total) das letras de música no Brasil.
Indigência que não é só literária, mas também moral: os temas se restringem ao corpo humano, e da cintura para baixo, expressos muitas vezes no vocabulário proveniente da gíria criada no submundo da droga e do crime, numa combinação de deixar perplexos o próprio diabo e seus demônios.
Como não ter saudade dos bons letristas do passado? Bastam poucos minutos sintonizados em alguma FM, para perceber a degradação mental e espiritual da espécie humana (setor Brasil), nas últimas décadas.
De fato, diante do que está aí, até aqueles esquerdistas dos anos 60 e 70 (Chico Buarque e Cia.), com seus assuntos manjadíssimos — defesa nem sempre sincera do pobre, da mulher, dos “excluídos” em geral e dos valores hedonistas — ainda estavam de certa maneira girando na órbita da boa literatura, pois liam lá o seu Drummond ou Bandeira.
Nos ginásios de sua época, foram até obrigados a ler alguns clássicos. Seus “poemas” já eram literatura inferior, destinada ao consumo fácil do show business, mas neles ainda ecoava um pouco da boa poesia que tinham lido. Esse “pouco” que ecoavam foi suficiente, no entanto, para transformá-los em poetas respeitadíssimos, com direito a entrar em manuais escolares
O triste é que esses subliteratos da MPB de ontem (alguns deles até eram bons poetas populares) se transformaram em principais modelos — em “novos clássicos”, digamos assim, guardadas as devidas proporções — dos letristas quase analfabetos de hoje, para os quais Drummond ou Bandeira, para não falar de um Dante e um Camões, são tão inacessíveis quanto a face de Deus.
A queda livre na qualidade poética seria inevitável. Sem falar do mais sério: a imoralidade bandida que se propaga junto ao grande público (de algum modo, consequência das novas gerações de letristas terem como mestres os esquerdistas da MPB e o onipresente rock internacional). E tudo veiculado por uma tecnologia de produção e de informação com a qual jamais sonhariam os letristas de ontem: a mídia mais sofisticada a serviço do lixo cultural.
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