San Francesco

[São Francisco de Assis não foi um precursor do ambientalismo moderno. “Nada era mais alheio a São Francisco do que deificar a natureza”, diz o autor deste artigo].

No meio de tantos elogios e críticas ao “Instrumentum laboris” do Sínodo sobre a Amazônia, que nos promete um outono quente — juntamente com o Sínodo alemão —, eu me perguntei o que são Francisco diria sobre este assunto. Não pretendo, de forma alguma, ser um porta-voz desse grande Santo, mas simplesmente aplicar algumas coisas que nos ensinou, com sua vida e com suas palavras.

Primeiramente, o apelo do Senhor a São Francisco — aquela locução que teve rezando diante do crucifixo de São Damião — era que restaurasse a Igreja, que ameaçava ir à ruína. Ele, simples como era, o entendeu literalmente e começou a reconstruir a antiga ermida. Só mais tarde compreendeu que era a Igreja das pessoas e não a das pedras que precisava de seu auxílio. Desde o início, portanto, a evangelização e o amor pela Igreja foram o objetivo a que se dedicou. A pobreza e o serviço aos pobres eram os meios para chegar a esse fim, o testemunho essencial para ganhar credibilidade e poder anunciar o Evangelho. Foi por isso que disse aos seus: “Pregai o Evangelho em todos os momentos, e, quando for necessário, usai as palavras.”

Se evangelizar para que o Senhor Jesus fosse conhecido e amado era sua paixão; e se a prática radical da pobreza era sua maneira de o realizar, sua outra grande paixão era amor da natureza. Estava sempre à procura de belos lugares para viver, o que na Itália é fácil de encontrar. Os bosques de sua Umbria natal — como Le Carceri —, as falésias íngremes de La Verna, ou a beleza suave das colinas perto de Roma, no vale de Rieti, o viram rezar e também chorar, tanto pela dor causada por sua doença nos olhos, como pelo desgosto que lhe davam seus seguidores. Na Fonte Colombo escreveu a Regra definitiva e, talvez, algumas estrofes do “Cântico das criaturas”, que finalizaria em Assis, já quase cego e perto da morte. Esta bela poesia não se dedica a honrar a natureza, como se fosse um hino pagão. É um louvor a Deus por tudo o que ele criou, inclusive a morte. Deus é sempre o objetivo final. A fraternidade expressa pelo Santo com tudo o que é criado se deve precisamente porque tudo, incluindo o ser humano, saiu da mão amorosa de Deus. A tudo chama de “irmão” ou “irmã”, mas não convida ninguém, exceto o homem, a louvar a Deus, porque ele sabe que eles não são pessoas e não podem fazê-lo. É verdade que, ao referir-se à terra, ele a chama de “mãe”, mas também a esta antepõe o substantivo “irmã”. Ela é a “irmã mãe terra”, uma criatura de Deus, e não a deusa Gea dos gregos ou a deusa Ceres dos romanos.

E o que isso tem a ver com o Sínodo da Amazônia? Nada era mais alheio a São Francisco do que deificar a natureza — o que está implícito no conceito pagão de “Pacha Mama”, a “mãe terra” — e, muito menos, transformá-la em fonte de revelação. A natureza é a nossa irmã e devemos cuidar dela enquanto tal, em vez de abusar dela e conduzi-la à beira da extinção. Mas não é Deus, nem o são os homens, as suas culturas, os seus costumes. Só Deus é Deus. Só a Ele se deve adorar, servir e amar. É para ele que devemos fazer todas as coisas, inclusive o amor ao inimigo, o serviço aos pobres e o cuidado com a natureza. Se as pedras, as florestas, os rios, um belo pôr do sol ou uma tempestade aterrorizante nos dizem algo, é que há Alguém que nos criou, a Quem devemos obediência e amor; e que esse Alguém, que é sabedoria infinita, falou de forma plena não pela boca das coisas e nem sequer pelos homens, mas pela boca de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Sem ter isso bem claro, o cristianismo torna-se uma absurda seita pagã; e o homem volta a ter como um modelo ético a lei da selva, que, não nos esqueçamos, é a dos mais fortes oprimindo os fracos (quando chora menos quem pode mais).

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