Cardeal Newman2

[O Papa autorizou, no dia 12 de fevereiro de 2019, a promulgação do decreto que proclamará santo o cardeal John Henry Newman, beatificado por Bento XVI em 19 de setembro de 2010.]

A próxima canonização do Cardeal Newman serve como lembrete oportuno da importância monumental de Newman para o renascimento do catolicismo, não apenas em sua Inglaterra natal, mas também nos Estados Unidos. Digamos, para simplificar, que a entrada de John Henry Newman na Igreja Católica, em 1845, anunciava um novo alvorecer para o catolicismo no mundo de língua inglesa.

Não seria, de fato, exagero dizer que a conversão de Newman está na própria origem do Catholic revival (Renascimento católico). Antes de Newman, a presença católica na Inglaterra havia murchado a tal ponto, que apenas os remanescentes das velhas famílias “recusantes” (leais a Roma) ainda transmitiam a fé de uma geração assediada e perseguida para a seguinte. Esses adeptos da “Velha Fé” carregavam o catolicismo em seus corações e em seus lares, mas eram efetivamente  dissuadidos de levá-lo para a vida pública. Depois da conversão de Newman, no entanto, o catolicismo se tornou uma importante presença intelectual na vida cultural inglesa e, na esteira de Newman, milhares de ingleses seguiram seu exemplo, convertendo-se em massa ao catolicismo. Esse fenômeno cruzou o Atlântico, anunciando um renascimento similar nos Estados Unidos.

Se a importância histórica de Newman é inquestionável, também é o grande legado que ele deixou para a posteridade. Seja em teologia, filosofia, educação e literatura, sua influência nos dois lados do Atlântico tem sido notável.

O famoso sermão de Newman sobre o Desenvolvimento na Doutrina Cristã, que ele pregou em fevereiro de 1843, tornou-se referência para o estudo do desenvolvimento doutrinal, elucidando a autoridade magisterial da Igreja Católica à luz da sua reivindicação de ser o Corpo Místico de Cristo. Seus discursos sobre educação liberal, oferecidos ao público católico em Dublin em 1852, quando se preparava para se tornar reitor da nova Universidade Católica Irlandesa, seriam publicados dois anos depois como A ideia de uma universidade, um livro que continua sendo um dos trabalhos mais eloquentes em defesa da eficácia de uma educação integrada, com base nas artes liberais. Até hoje, a influência de Newman pode ser vista na criação de novos centros católicos de ensino superior.

Sua maior contribuição para a filosofia é seu trabalho seminal, A gramática do assentimento (1870), produto de vinte anos de trabalho, em que se destacam os fundamentos racionais para a crença religiosa e a inadequação do empirismo filosófico. Sua Apologia pro Vita Sua (1864) é, sem dúvida, a maior autobiografia espiritual já escrita, com a óbvia exceção das incomparáveis Confissões de Santo Agostinho.

Anos antes, em 1848, apenas três anos após sua recepção na Igreja, Newman prenunciou sua Apologia com seu primeiro romance, Perda e ganho, um relato ficcional semi-autobiográfico sobre um jovem à procura da fé, em meio ao ceticismo e às incertezas de Oxford no início da época vitoriana. Também abordou o problema da conversão em seu romance histórico Callista: Um esboço do terceiro século, publicado em 1855.

Grande estilista em prosa, o crítico George Levine viu em Newman “talvez o mais artístico e brilhante prosador do século XIX”, um julgamento aparentemente ecoado por James Joyce, via Stephen Dedalus, em Um retrato do artista quando jovem. Newman também foi um dos melhores poetas da era vitoriana, escrevendo poemas como “O Sinal da Cruz”, “A Prisão de Ouro” e “A Rainha dos Peregrinos”, que se situam ao lado dos melhores versos de seus ilustres contemporâneos. Seu poema mais ambicioso é O sonho de Gerontius, que mais tarde serviu de inspiração a um oratório de Sir Edward Elgar; apresenta uma alma no momento da morte e a sua condução, pelo anjo da guarda, à graça purificadora do purgatório. “Faz-nos lembrar Milton, às vezes”, sugeriu o crítico A. S.P. Woodhouse, “e antecipa notavelmente T. S. Eliot em sua apresentação de Cristo como o cirurgião que examina a ferida para curá-la.

A canonização iminente de Newman significa a crença da Igreja Católica de que ele alcançou a sua recompensa celeste. De qualquer forma, não há como negar a magnitude da influência de Newman na Igreja e na cultura secular mais ampla, especialmente no mundo de língua inglesa. De fato, pode-se dizer que Newman não é apenas o pai do Catholic revival (renascimento católico): seu desenvolvimento posterior se apoia em seus ombros fortes e diligentes. Lembrando das famosas palavras de Sir Isaac Newton, de que havia “visto mais longe, pois tinha ficado de pé sobre ombros dos gigantes”, pode-se dizer que os católicos nos Estados Unidos veem sua fé e o mundo a partir da perspectiva de um renascimento que se apoia sobre os ombros de John Henry Newman. Como tal, a dívida que os católicos norte-americanos devem ao cardeal prestes a ser canonizado é considerável.

http://www.ncregister.com/blog/josephpearce/cardinal-newman-father-of-the-catholic-revival

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