Ninguém duvida de que muitas verdades sobre Deus e a lei moral natural, e muitas Semina Verbi [sementes do Verbo] foram conhecidas pelos pagãos e estão contidas em muitas religiões (exceto aquelas diretamente satânicas), como por exemplo a “regra de ouro”. “Ninguém acredita que Deus não pode dar a graça da salvação eterna fora do reino da Igreja visível, de seus sacramentos e da fé cristã consciente. Ninguém está errado em ver as muitas boas e belas verdades que o Papa Francisco e o Imam confirmam no documento [“A Fraternidade Humana para a paz mundial e a convivência comum”, assinado em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, pelo Papa Francisco e o Grande Imam de Al-Azhar].

No entanto, afirmar que o pluralismo e a diversidade das religiões são desejados por Deus em sua sabedoria, através da qual Ele criou os seres humanos, vai muito além de tudo isso.

Como Deus pode querer religiões que negam a divindade e a ressurreição de Cristo? Como isso é compatível com a lógica? Deus pode querer que os homens afirmem crenças opostas sobre Jesus Cristo, sobre Deus ou sobre qualquer coisa?

Como pode Deus, desde a criação, querer que os homens caiam em pecado, na falsa adoração aos deuses, sejam vítimas de erros e superstições de todos os tipos, de respeitar religiões sutilmente ateístas ou panteístas, como o budismo, ou religiões condenadas pelo Antigo Testamento, atribuídas a demônios e ao culto demoníaco?

Como pode Deus, que quer que seus discípulos saiam a pregar ao redor do mundo e batizem a todos, querer alguma heresia, e muito menos religiões que negam a fé em Jesus, o qual disse a Nicodemos que quem  n’Ele crê se salvará e quem não crer será condenado (Jo 3, 18)? Se lemos o Antigo e o Novo Testamento, ou observamos os ensinamentos universais da Igreja sobre o mandamento divino, dado pelo próprio Cristo, de pregar o Evangelho a todas as nações, sobre a necessidade do batismo e da fé para a salvação etc., o que ocorre é claramente o oposto.

Como pode ser verdade que Deus, em Sua sabedoria, tenha desejado desde a criação que muitas pessoas não creiam em seu único Redentor?

Não posso imaginar nenhuma engenhosa pirueta mental que possa negar que esta declaração não só contem todas as heresias, como também postule a vontade divina de que a grande maioria da humanidade aprove todo tipo de falsas crenças não-cristãs.

Além disso, atribuindo a  Deus a vontade de  que haja religiões que contradizem a Revelação divina, em vez de atribuir-lhe a vontade de que todas as nações devem crer no único Deus verdadeiro e em seu Seu Filho e nosso Redentor, Deus se tornou um relativista que não sabe que existe apenas uma verdade e que seu oposto não pode ser verdadeiro para nações diferentes, ou então que ele não se importa se os homens acreditem na verdade ou na falsidade. Esta frase afirma que Deus deseja os equívocos religiosos.

Ao assinar a declaração de que Deus quer uma pluralidade de religiões, o Papa desafia tanto a fides como a ratio e rejeita o próprio cristianismo, que é inseparável da crença em Jesus Cristo, o unus Dominus (suponho que também as mais altas autoridades islâmicas também expulsarão a este Imam, porque o Islã também faz uma afirmação absoluta da verdade).

Na verdade, se Deus “realmente deseja todas as religiões”, então deve odiar a Igreja Católica mais do que qualquer outra coisa, porque esta afirma que é a única, santa, católica e apostólica, rejeitando em seus dogmas e seus perenes ensinamentos magisteriais toda relativização da religião cristã — relativização que transformaria o cristianismo em uma das muitas religiões contraditórias que há por aí.

Em suma: todos os católicos devem rezar para que o Papa se converta e rejeite essa frase horrível no “A Fraternidade Humana para a paz mundial e a convivência comum”, assinado por ele e o Grande Imam Ahmad Al-Tayyeb, porque essa frase abala todas as coisas verdadeiras e belas que este documento diz sobre a fraternidade.

Não é impossível nem vergonhoso para um Papa retratar os erros que ele cometeu em seus ensinamentos não infalíveis. O primeiro Papa, instituído pelo próprio Jesus Cristo, São Pedro, o fez por causa da repreensão de São Paulo, durante o primeiro Conselho Apostólico da Igreja. O Papa João XXII renunciou, em seu leito de morte, a uma heresia sobre o destino das almas, que ele havia afirmado em um documento anterior, e que, num segundo momento, foi condenado como heresia por seu sucessor.

Consequentemente, temos boas razões para esperar que o Papa Francisco revogue uma fradse que constitui uma ruptura total com a lógica, assim como com o ensino bíblico e eclesial.

Se não o fizer, temo que se possa aplicar a lei canônica, segundo a qual um Papa perde automaticamente seu ministério petrino se professa uma heresia, especialmente se professa a maior de todas as heresias.

https://infovaticana.com/2019/02/11/profesor-seifert-como-puede-dios-querer-religiones-que-niegan-la-divinidad-de-cristo/