O advento está apenas começando, mas muitos de nós já estão pensando no Natal. Em certo sentido, isso é bastante justo. O Advento é um tempo de preparação para nossa celebração do nascimento de Cristo e é apropriado que estejamos aguardando ansiosamente a vinda de Nosso Senhor. Em outro sentido, no entanto, as armadilhas do período pré-natal podem ser uma distração da preparação santa e saudável que o advento deve proporcionar. Preocupações com os presentes que precisamos comprar, a árvore que precisamos escolher, a festa do escritório a que vamos comparecer, o dinheiro que gastaremos e o orçamento que precisamos equilibrar servem para nos manter longe do verdadeiro espírito da Estação.
Sem querer aumentar essas distrações, eu gostaria de sugerir um livro que todos os defensores da educação católica autêntica poderiam presentear a amigos e parentes neste Natal. O livro em questão é A Morte da Alma: Ensaios Críticos sobre a Universidade de Thomas S. Martin (Chisokudo Publications, 2017).
O professor Martin é professor de Filosofia em uma grande universidade estatal, mas não devemos deixar que esse fato lamentável nos afaste da leitura do livro. De fato, apesar dessas credenciais pouco promissoras, ele é um pensador em que se pode confiar. Lemos, na breve biografia da contracapa, que o professor Martin e seus colegas no departamento de filosofia da Universidade de Nebraska, em Kearney, “se dedicam ao estudo das Grandes Obras”. As que professor Martin ensina incluem trabalhos de Platão, Aristóteles, Dostoiévski, Kierkegaard e G.K. Chesterton, bem como as obras daqueles que não conseguiram ver as coisas tão claramente, como Locke, Hume, Descartes, Nietzsche, Freud e Sartre. O professor Martin também leciona regularmente sobre as obras de Solzhenitsyn, um fato que seria suficiente, por si só, para lhe conceder confiabilidade.
Como se o precedente não fosse suficiente para acalmar nossos temores, professor Martin é um ousado católico praticante, cuja presença imponente (possui uns 15 centímetros acima do normal) pode ser vista anualmente na Conferência GK Chesterton, na qual freqüentemente dá palestras temperadas com o tipo de inteligência e sabedoria de que o próprio Chesterton era mestre indubitável. Não é de surpreender, portanto, que uma longa passagem de Chesterton sobre o valor da tradição sirva de epígrafe a este volume de ensaios. Esse espírito de inteligência e sabedoria, temperado com sátira mordaz, está presente em todos os ensaios do livro do professor Martin.
Em sua introdução, o Professor Martin localiza o objetivo da universidade em princípios estabelecidos por Aristóteles em sua Metafísica e na sua Ética a Nicômaco. “O homem tem dois olhos”, escreve professor Martin. “Possui um olho externo, o olho quantificável, o olho científico, que mede tudo pelo tamanho, forma, cor, velocidade e quantidade. E um segundo olho, o olho interno, o olho qualitativo. Este é o olho da memória e do auto-exame, que é sustentado por uma consciência e o juízo moral necessários para distinguir entre o que é justo e injusto, o bem e o mal, a fumaça e os espelhos.” O veículo do olho externo são as ciências naturais, enquanto o olho interno vê através das lentes da história, da literatura, da filosofia, das artes e, claro, das Escrituras. “Prive um aluno de um desses olhos dele e se será um Ciclope”, escreve o professor Martin, “com a visão míope das mentes limitadas”.
Em toda essa coleção de ensaios, o professor Martin julga a academia moderna com os dois olhos bem abertos. Muito frequentemente, ele não gosta do que vê. Seu julgamento é freqüentemente contundente e expresso numa concisão epigramática. Assim, no ensaio de abertura, “Pós-modernismo, ou a Era da Decrepitude”, ele afirma que “a televisão é para aqueles que não têm imaginação”.
E em seguida vem a sátira. Num ensaio intitulado “Pessoas altas em Instituições Predominantemente Baixas” ele convoca sua própria universidade, a Universidade de Nebraska, “com um ato de boa fé”, para “elevar os batentes das portas a dois metros e meio, colocar um mictório e um vaso sanitário para pessoas altas em banheiros, bem como oferecer várias mesas e cadeiras mais altas em cada sala de aula.” “É compreensível”, conclui ele, “que os verticalmente prejudicados tenham algumas queixas contra as instituições que estão praticando a discriminação de altura…”
Contra essas liberdades menores, expressas como “direitos”, que o professor Martin satiriza, ele defende a liberdade suprema, a liberdade da vontade em conformidade com a justa razão. Tomando sua sugestão mais uma vez de Aristóteles, lembra-nos de que um homem verdadeiramente livre “usa a própria alma para governar o corpo”:
Se o corpo dominar a alma, o corruptível estará guiando o incorruptível, e isso simplesmente não é uma boa idéia… A escravidão é a condição do corpo governando a alma, a barriga e/ou a virilha tomando decisões, por assim dizer, ao invés da alma concentrar-se em princípios e viver de suas convicções. Um escravo é uma pessoa que não pode conter-se diante dos apetites do corpo e do desejo excessivo de posses externas. Há um velho ditado que diz: quem não pode se controlar, será controlado.
De acordo com essa verdadeira compreensão da liberdade, os estudantes das modernas universidades seculares são educados para ser escravos; mais que isto, educados para abraçar a escravidão em nome de liberdades superficiais e falsas. Tal é a loucura da academia moderna, que o Professor Martin rejeita, despreza e, muitas vezes, satiriza nesse volume deliciosamente incisivo e perspicaz. Aqueles que desejam, neste Natal, dar presentes instigantes e verdadeiramente esclarecedores, não precisam procurar mais nada.
https://theimaginativeconservative.org/2018/12/death-of-the-soul-thomas-s-martin-joseph-pearce.html
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