
No centenário de nascimento do filósofo americano Russell Kirk (1918-2018)
O conservadorismo é uma filosofia, não uma ideologia
O National Review Institute, liderado pela temível Lindsay Craig, tem se empenhado em um projeto louvável nos últimos cinco anos, patrocinando um “exame rigoroso” de princípios conservadores, para profissionais no meio da carreira que querem uma compreensão mais profunda do conservadorismo. Liderando as discussões, ao longo de oito seminários com jantares, estão conservadores como Victor Davis Hanson, Jonah Goldberg, Richard Brookhiser, Dan Mahoney e Kathryn Jean Lopez.
Tive o privilégio de lançar a série em Nova York, Washington, DC, Dallas, São Francisco e Filadélfia, com um perfil do fundador polímata da National Review, William F. Buckley Jr. Na seção de perguntas e respostas que segue à palestra, duas perguntas são invariavelmente feitas por advogados, educadores, funcionários públicos, médicos, empresários e até mesmo pastores que participam do encontro.
A primeira pergunta geralmente vem em meio à discussão: “Existe hoje por aí alguém que poderia ser o próximo Bill Buckley?” Eu me recuso a ficar preso a um nome, mas mencionaria jovens e dinâmicos palestristas, como Ben Shapiro e Matthew Continetti, e editores perspicazes, como Yuval Levin e Dan McCarthy.
Quando pressionado, respondo que Bill Buckley era sui generis e é improvável que o veremos novamente. Mas, acrescento rapidamente, que há um bom número de conservadores com menos de 40 anos, cujos talentos, no conjunto, são iguais aos do homem que, mais do que ninguém, fez o movimento conservador moderno.
A segunda questão geralmente chega ao final do jantar: “O que é conservadorismo?” A maioria dos membros do Instituto da National Review vive em um mundo liberal hostil, no qual eles são desafiados a justificar suas posições filosoficamente. Eles não buscam um tweet rápido, mas uma explicação detalhada do conservadorismo, sobre a qual poderiam fundamentar-se e basear sua posição nos assuntos urgentes do dia.
Minha resposta se baseia em quatro fontes: (1) A Declaração de Sharon, elaborada por M. Stanton Evans e adotada pelo Young Americans for Freedom em sua reunião de fundação em setembro de 1960. (2) A mentalidade conservadora, de Russell Kirk, segundo o qual a essência do conservadorismo se resume a seis cânones. (3) A Consciência de um Conservador, de Barry Goldwater, que discorre sobre os dois aspectos do homem: o material e o espiritual. (4) A partir do liberalismo, de Buckley.
Começo com os principais pontos da Declaração de Sharon, reconhecidos pelo The New York Times como um “documento seminal” do movimento conservador, e aceito por muitos conservadores como a melhor síntese de ideais conservadores.
Nós, como jovens conservadores, acreditamos:
Que o principal entre os valores transcendentes é o uso que o indivíduo faz do livre-arbítrio dado por Deus, de onde deriva seu direito de defender-se das restrições das forças arbitrárias;
Que a liberdade é indivisível, e essa liberdade política não pode existir por muito tempo sem liberdade econômica;
Que o objetivo do governo é proteger essas liberdades por meio da preservação da ordem interna, da manutenção da defesa nacional e da administração da justiça;
Que a Constituição dos Estados Unidos é o melhor contrato já concebido para capacitar o governo a cumprir adequadamente o seu papel, ao mesmo tempo em que o preserva da concentração e do abuso de poder;
Que a economia de mercado, alocando recursos pelo livre jogo da oferta e demanda, é o único sistema econômico compatível com as exigências da liberdade pessoal e do governo constitucional, sendo, ao mesmo tempo, o mais produtivo atenuador das necessidades humanas;
Que a política externa americana deve ser julgada por este critério: ela atende aos justos interesses dos Estados Unidos?
Em seguida, ofereço meu resumo dos seis cânones conservadores de Russell Kirk: (1) Tanto uma intenção divina, como a consciência pessoal, governam a sociedade. (2) A vida tradicional é cheia de variedade e mistério, enquanto a maioria dos sistemas radicais é caracterizada por uma estreita limitação. (3) A sociedade civilizada requer ordem e hierarquia. (4) Propriedade e liberdade estão inseparavelmente conectadas. (5) O homem deve controlar sua vontade e seu apetite, sabendo que ele é governado mais pela emoção do que pela razão. (6) A sociedade deve mudar, mas lentamente.
Depois, passo para Barry Goldwater, que com L. Brent Bozell escreveu A Consciência de um Conservador. Goldwater foi o primeiro candidato à presidência a fazer campanha como um fusionista, baseando-se tanto em linhas tradicionais como libertárias do pensamento conservador para seu programa político e suas posições. Os conservadores levam em consideração o homem como um todo, escreve Goldwater, tanto no aspecto material como espiritual; enquanto os liberais tendem a olhar apenas para o lado material da natureza humana, o conservadorismo considera o aprimoramento da natureza espiritual do homem como a principal preocupação da filosofia política.
Com essa visão da natureza humana, diz Goldwater, é compreensível que “o conservador considere a política como a arte de alcançar a máxima liberdade para os indivíduos, compatível com a manutenção da ordem social”. O conservador é o primeiro a entender que “a prática da liberdade requer o estabelecimento da ordem”. É impossível que um homem seja livre, enquanto haja outro capaz de negar-lhe o exercício de sua liberdade.
Mas o conservador também reconhece que o poder político, sobre o qual a ordem se fundamenta, é uma força de autocrescimento; que seu apetite aumenta à medida que se alimenta. “Ele sabe”, diz Goldwater, “que a maior vigilância e cuidado possíveis são necessários para manter o poder político dentro de seus limites”.
Eu termino minha definição de conservadorismo com um trecho do livro de Buckley, Up from Liberalism, em que ele faz um elogio da alternativa conservadora fundado “na liberdade, na individualidade, no sentido de comunidade, na santidade da família, na supremacia da consciência, na visão espiritual da vida.” Em poucas palavras, Buckley fornece um resumo claro dos princípios conservadores.
O conservadorismo é uma filosofia, não uma ideologia. É a sabedoria coletiva de conservadores como Evans, Kirk, Goldwater, Buckley e Abraham Lincoln, o qual, quando perguntado sobre o que é o conservadorismo, respondeu: “Não é a adesão ao velho e já experimentado, contra a novidade inexperiente?”
O conservadorismo está na rocha sólida da fundação dos EUA e da civilização ocidental. Seu princípio primordial é a “liberdade ordenada”, que o Instituto da National Review, junto com os conservadores em todos os lugares, estão determinados a preservar e proteger para esta geração e as gerações vindouras. Tenho orgulho de fazer parte deste nobre projeto; e espero você também venha se juntar a mim e ao Instituto da National Review nesse empreendimento.
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