Deus é frequentemente culpado por permitir o mal no mundo. Alega-se que essa permissividade é uma prova de que Ele não é Deus, ou até que provoca o mal por não impedi-lo. Agostinho é famoso por afirmar que Deus permitiria o mal num mundo bom, somente se, permitindo-o, resultasse num grande bem. O mal, portanto, pode ser ocasião de algo bom.
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Não saberíamos, por exemplo, o que é misericórdia, se não perdoamos e não somos misericordiosos. Não vamos, porém, praticar o mal, para que disto possa resultar algo bom. Contudo, se praticamos o mal, o Senhor pode extrair alguma coisa boa de nossas ações e do bem que permanece em nós, apesar dos nossos pecados.
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“Há homens que querem levar uma vida virtuosa e já decidiram colocá-la em prática”, continua Santo Agostinho, “mas não são capazes de suportar sofrimentos, mesmo que já estejam decididos a fazer o bem. Faz parte da fortaleza cristã não somente realizar boas obras, como também suportar o mal”.
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Algumas dessas compreensões do mal já estavam em Platão. Seus princípios fundamentais eram os seguintes: 1) “Nunca é certo fazer o que é errado.” 2) “A morte não é o pior dos males.” 3) “Nenhum mal poderia prejudicar o homem bom”. 4) “É preferível sofrer o mal do que praticá-lo”.
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Em 1977, Josef Ratzinger escreveu que o pensamento moderno quer “redimir o sofrimento removendo-o: não a redenção através do sofrimento, mas a redenção do sofrimento”. O homem não espera “a assistência divina, mas a humanização do homem pelo homem” (“Co-herdeiros da verdade”, 123)
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O homem ocupa o lugar de Deus. Quer remover o sofrimento por seus próprios meios. Os caminhos de Deus, através da paciência e do sofrimento, são rejeitados. Resta-nos o que podemos fazer de nós mesmos, aqui neste mundo. Apegados a uma causa nobre, como frequentemente acontece, pioramos as coisas se seguimos as nossas próprias regras.
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O Senhor nos deu um mundo imperfeito para ver o que faríamos nele. Nosso testemunho é nossa história. Devemos tornar esse mundo, que já é bom, mais habitável. Mas nós podemos fazer disso (e muitas vezes o fazemos) um inferno na terra. Temos de suportar os pecados dos outros. E eles têm de suportar os nossos.
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Alguns odeiam a Deus por nos colocar na situação de ter que escolher o bem e suportar o mal. Outros percebem que esse mundo caído é o único no qual podemos existir. (…) até mesmo o nosso “sofrimento” pode ser “bom”, se nós o suportarmos.
https://www.thecatholicthing.org/2018/10/09/on-the-enduring-of-evil/
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