O inferno existe — ou não? O demônio existe — ou não? “O inferno é aqui mesmo”, garante um título de romance brasileiro contemporâneo, escrito pelo ateu Luiz Vilela. Outro ateu, mas de fama mundial, Jean-Paul Sartre, dizia que o inferno eram as outras pessoas, o nosso próximo.
Ao menos em parte, podemos admitir que os dois escritores têm razão. O inferno não é aqui, mas pode perfeitamente começar neste mundo; e de fato começa, quando a pessoa opta por ir, servilmente, no caminho dos sete vícios capitais: gula, luxúria, avareza, ira, vaidade, inveja, preguiça. E quem já foi obrigado a conviver com um guloso, um devasso, um mão-de-vaca, um consumista, um colérico, um presumido, um invejoso, um comodista, sabe que é um verdadeiro inferno…
Mas, à parte essas utilizações figuradas da palavra inferno, é um termo que indica uma sólida verdade de fé. Ao menos para os cristãos, a existência do inferno é um dogma, um ponto básico de nossa doutrina — pedra do alicerce que, se você retirar, todo o edifício desmorona.
Quem vai para o Inferno? Ninguém sabe. São as pessoas que escolhem esse deplorável destino, ao recusar viver de acordo com as sábias leis divinas. O Catecismo da Igreja Católica fala antes em auto-exclusão; e nunca se atreveu a nomear um único homem que para lá tenha ido. É um segredo trancado a sete chaves.
Deus, bondade suprema, não manda ninguém ao Inferno. Diz-se que a principal astúcia do demônio é convencer as pessoas de que ele e o inferno não existem. E — admitamos — o tinhoso tem tido muito sucesso, hoje em dia, ao veicular essa mentira, inclusive no clero católico… No entanto, o próprio Jesus Cristo dele falou muitas vezes, nos evangelhos. A imagem do “fogo que não se apaga”, destino dos que recusam viver segundo a vontade do Senhor, diz muito acerca do terrível que é passar a eternidade longe do único e verdadeiro bem, que é Deus.
O inferno possui uma lógica irrefutável; e é consequência da nossa liberdade. Sabemos como é impossível educar filhos e alunos sem a ideia de retribuição ou castigo. Não pode haver vida civilizada sem a submissão do “princípio do prazer” ao “princípio de realidade”, como dizia o ateu Freud. Se isto é verdade aqui para este mundo, por que não o seria em âmbito sobrenatural? Sem o conceito e a realidade do inferno, a moral cristã seria impraticável.
Como se não bastasse o que disse Jesus sobre a perdição eterna, algumas aparições da Virgem Maria — ao menos para nós, católicos — vêm confirmar essa verdade da fé cristã. Numa de suas manifestações (em Fátima, Portugal), a mãe de Jesus disse, com muita clareza: “Muitas almas vão ao inferno, pois não há quem se sacrifique e reze por elas”. Mais recentemente, em Medjugorje (uma cidadezinha da Bósnia), referindo-se ao nosso destino depois da morte, afirmou que poucas almas sobem diretamente ao Céu; a maioria deve passar pelo filtro do purgatório. Avisou, no entanto, que em nossa época um número muito grande de almas se perde para sempre (ou seja, terminam no inferno).
Parece que nossa época está pouco se lixando para o destino eterno — prefere aproveitar o momento que passa, como aqueles dois jovens bêbados de uma velha anedota, que tinham passado a noite no prostíbulo. Já era madrugada, quando saíram e toparam com um padre, que voltava para casa depois de ministrar a extrema-unção a um doente grave. Um deles zombou do sacerdote:
— Que decepção, padre, quando o senhor morrer e perceber que o Céu não existe!
O padre não deixou por menos:
— Decepção maior será a sua, irmão, quando morrer e verificar que existe o Inferno…
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