Em agosto de 1917, quatro meses após o início de suas aparições em Portugal, a Virgem Maria prometeu aos três pequenos pastores que na última aparição, a 13 de outubro, deixaria um sinal para que todos cressem em sua presença em Fátima, e levassem a sério sua mensagem: a lembrança de que o inferno existe; a oração do Rosário como arma contra o Mal; a crise que o cristianismo católico enfrentaria no século XX; e o papel da Rússia como disseminadora do ateísmo socialista.

Foi um sinal espantoso, conhecido como “dança do Sol”, com estranhos movimentos do grande astro no céu. Calcula-se que entre cinquenta e setenta mil pessoas estiveram presentes na Cova da Iria, testemunhando o inexplicável fato. Geralmente, esses fenômenos sem causa aparente são classificados como delírio coletivo, atribuídos à ignorância do povo simples, julgado incapaz de discernimento objetivo. Vejamos, então, o depoimento de dois intelectuais, um físico-matemático e um jornalista, mais acostumados à análise fria do que à rápida adesão aos dados sensoriais.

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Um professor universitário da Universidade de Coimbra, doutor em Matemática e astrônomo do Observatório Astronômico daquela universidade, estava entre os milhares de pessoas que foram esperar pelo sinal prometido. Era o Dr. Gonçalo Xavier de Almeida Garrett, que deixou por escrito o seu relado de testemunha ocular. Contou que céu ficou fechado e escurecido por toda a manhã de inverno, com muita chuva (as fotos mostram a multidão de guarda-chuva). De repente, clareou. O céu continuava com uma camada espessa de nuvens, mas o Sol a tinha penetrado e brilhava com intensidade.

Era por volta de 1h30 da tarde, e o professor já estava desanimado de que algo pudesse ocorrer, quando ouviu um alvoroço de vozes: percebeu que todos, então, olhavam para o alto. O Sol, como um disco muito claro, podia ser visto sem ferir a vista das pessoas, girando sobre si mesmo como um pião que rodopiasse.

Professor Garrett revelou, também, que houve mudanças de cor na atmosfera. Toda a paisagem tinha adquirido uma cor mais ou menos lilás, que se foi mudando para o vermelho-amarelado do pêssego. “As pessoas pareciam que sofriam de icterícia — recorda o professor — e lembro-me de uma sensação de divertimento ao vê-los tão feios e repulsivos. A minha mão estava da mesma cor.”

Foi então que um súbito grito de pavor subiu de toda a multidão. O Sol, vermelho como o sangue e sempre girando, parecia soltar-se do firmamento e avançar sobre a terra. “A sensação, durante esses momentos, foi verdadeiramente terrível”, revelou o professor. O relato do professor Almeida Garrett encontra-se na obra do Padre Antônio M. Martins, “Novos Documentos de Fátima” (Edições Loyola, São Paulo, 1984).

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Outro testemunho intelectual da “dança do Sol” é o jornalista maçom Avelino de Almeida (1873-1932), que também foi escritor e critico de teatro, ligado aos círculos literários de Lisboa. Avelino era editor-chefe, na capital lusa, de um jornal de firme orientação anticatólica, “O Século”, e foi encarregado de viajar a Fátima para desmistificar, no dia 13 de outubro de 1917, a “grande farsa” da Igreja.

Foi com esse espírito que o jornalista chegou à pequena cidade de Fátima. Mas não conseguiu realizar o seu objetivo, pois naquele dia ele mesmo assistiu (palavras suas) “a um espetáculo único e inacreditável”. “Do cimo da estrada”, escreveu Avelino, “onde se aglomeram os carros e se conservam muitas centenas de pessoas, a quem escasseou valor para se meter à terra barrenta, vê-se toda a imensa multidão voltar-se para o Sol, que se mostra liberto de nuvens, no zênite. O astro lembra uma placa de prata fosca e é possível fitar-lhe o disco sem o mínimo esforço. Não queima, não cega. Dir-se-ia estar-se realizando um eclipse. Mas eis que um alarido colossal se levanta, e aos espectadores que se encontram mais perto se ouve gritar:

— Milagre, milagre! Maravilha, maravilha!”

O seu artigo, escrito com talento de cronista, é um retrato bem feito de uma pequena cidade do interior. Intitula-se “Como o Sol bailou ao meio dia em Fátima”, também recolhido na obra do Padre Antônio M. Martins, atrás mencionada. Pode ser lido facilmente na internet.

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