Para remodelar a família, a “nova ordem mundial” necessita reduzir a influência e poder das religiões abraâmicas (judaísmo, islamismo, cristianismo), que acreditam ser portadoras da verdade. Seria preciso criar uma espiritualidade universal sem credos nem doutrinas. A disseminação da ioga, no Ocidente, tem feito a sua parte nesse projeto ousado.
O sacerdote belga Joseph-Marie Verlinde (que, antes de ser padre, envolveu-se durante anos com ioga e outras práticas religiosas hinduístas), revelou certa vez uma conversa que teve com o seu guru indiano, Maharishi Mahesh, que tinha sido também o guru dos Beatles. Quando o futuro padre lhe disse que as pessoas, no Ocidente, andavam fazendo ioga para relaxamento muscular e emocional, o famoso guru não conteve o ataque de riso. Disse, em seguida: “Isto não vai impedir que o ioga obtenha o seu efeito…”
Qual efeito? O de disseminar no Ocidente a religião hinduísta, cujas diferenças com o cristianismo são enormes. Sabemos que a ioga, técnica de meditação desenvolvida na Índia, transformou-se em moda, no Ocidente, a partir dos anos sessenta, com a chamada revolução contracultural (aquela que veio para disseminar o famoso trio: sexo, drogas e rock’n roll).
O que procura o homem ocidental na ioga? Certamente bem-estar pessoal, distensão, relaxamento, em plena consonância com sua mentalidade hedonista, de permanente busca da felicidade material e psicológica. Entretanto, os que bem conhecem a ioga jamais a enquadrariam na categoria de simples exercícios físicos, pois ela está intimamente ligada à religião da qual provém, a hinduísta, segundo a qual toda a realidade deriva de um certo princípio único, chamado Brahama, raiz de tudo o que existe.
Todas as coisas, segundo o hinduísmo, são emanações energéticas desse princípio fundamental, sobretudo o ser humano, que é visto como uma fagulha do fogo divino que a ela deve retornar. Esta é a função da ioga: conduzir a pessoa a uma “união” (este é o sentido etimológico da palavra ioga) com o seu próprio ser divino, desvencilhando-a da condição humana, buscando atingir a liberdade absoluta através de posturas do corpo e das mãos, emissões vocais, controle da respiração.
Por que livrar-se da condição humana? Para os hinduístas, a realidade que vemos diante de nós (as coisas, os animais, as plantas, os astros etc.) é tão defeituosa, tão dolorosa, tão incompatível com a perfeição divina, que preferem considerar que tudo isto não existe, não passando de mera impressão e aparência. É necessário, então, enquanto dura o pesadelo de nossa vida, procurar um caminho que nos leve de volta à fonte divina que se perdeu. Um desses caminhos é a ioga,
Fica bem evidente a megalomania dessas religiões orientais: hinduístas e budistas consideram-se divinos, ao contrário do cristianismo, que sempre viu e verá no ser humano uma criatura, eternamente criatura. Os cristãos consideram que a solução proposta pela ioga é uma forma ingênua e inaceitável de resolver o problema do mal.
Para o homem cristão, a realidade criada por Deus não é essencialmente má, apesar dos tantos aspectos problemáticos que possui. Aceita-a com todos os seus limites. Ama o próprio corpo e agradece ao Criador pela alma que, criada à imagem e semelhança de Deus, o distingue dos outros animais. É compreensível que, no fim de um dia cansativo de trabalho, as pessoas desejem relaxar o corpo e a mente, distender músculos e emoções. É nesse momento que a ioga aparece com uma solução fácil, entre outras.
Fácil e perigosa. Cristo convida o homem a tomar a sua cruz e segui-Lo — suportando com paciência a condição humana —, até o ponto de chegada que é o paraíso celeste, onde estará um dia junto de Deus por toda a eternidade: criatura e Criador para sempre unidos, mas sempre distintos. Bem diferente é o convite hinduísta da ioga, que propõe alívios momentâneos do sofrimento com a falsa promessa de que somos fragmentos da divindade que, em breve, retornarão à unidade perdida.
Uma óbvia consequência moral, ainda para este mundo, é a lição de humildade que sempre brotará das páginas evangélicas, ao contrário da inevitável soberba gerada pela falsa espiritualidade da ioga.